Ponderei bastante escrever sobre este tema. Sinto que já vos inundei o suficiente com a minha dor, mas fica sempre a faltar algo por dizer. A Capri foi a primeira cabrinha que trouxe para casa. Pus-lhe laços na cabeça, enrolei-a numa manta, deixei-a andar pela sala e, obviamente, eu não via mais nada à frente.

Fiquei tão cega com esta narrativa perfeita, que não vi os sinais, agora, tão óbvios. Sinais que me darão uma grande ajuda num futuro muito próximo. Se uma cabra rejeita a própria cria e lhe nega a mama, o colo, o apoio… algo estranho se passa. Eu devia saber mais. Devia saber que algo se passava, que a Capri era frágil. Daí conseguir apanhá-la sempre tão bem e ela deixar-me fazer tudo.  Ao meu colo ela não tremia, ou estava à força, como muitos outros cabritos estiveram, e é normal estarem, pois têm horas de vida. Estava sempre em conforto e segurança.

As horas de ir pastar eram sempre mágicas. Mas, lá está, já achava piada ao facto de a Capri comer ervas com um mês de idade e não me foquei no problema “então e o leite materno?”! Não vou continuar a insistir e obrigar a Nico a dar mama?!

Entre este drama, foi ainda a primeira cabrinha que nasceu em pleno inverno, coisa que nunca tinha acontecido. E apesar de terem uma casota, de terem refúgio, a verdade é que temperaturas de 4 graus à noite e dias e dias de chuva sem parar não ajudaram à trágica equação.

É mesmo como nos filmes, mas pior. Quando a vi, gritei. Gritei em choro um “não” de desespero profundo. Capri… estavas ali, na chuva, deitada, de boca e olhos abertos. No meu coração vejo o teu a parar. Parou ali e cedeu. Todos me dizem “a culpa não foi tua”. Mas foi, Capri, foi. Já não sofria assim há bastante tempo. Embora esta dor tenha sido uma dor nova. Sinto-me incompetente e culpada a 100%. Devia ter chamado a veterinária. Provavelmente, diria o que já disse de outros: três seringas com reforços e a natureza faria o resto. E entre a minha falta de experiência, ausência do meu pai e enxaquecas… eu não liguei à veterinária a tempo.

Peguei na Capri com 2 mantas e levei-a comigo para a adega da casa. Lá estivemos mais de uma hora em silêncio e choro. O Hugo foi dar connosco e disse-me “Gira, já fiz a cova para a Capri”.

Descemos até à horta, e do lado esquerdo, debaixo de uma oliveira centenária, lá estava “a cova”; um buraco com um palmo de profundidade e três palmos de largura. Os meus olhos não podiam ver aquilo, que atentado! Obviamente que gozei com o Hugo e disse-lhe que aquilo não era uma cova. O Hugo foi irrepreensível comigo. Respeita os meus lutos com nobreza e alento.

A Capri só viveu um mês, mas o amor que me deu, o amor que eu lhe dei e as lições que eu levo, são para toda a vida.

 

a minha eterna bebé