A publicação de segunda-feira teve de esperar até o mês de fevereiro se completar e eu poder reflectir na sua imensidão. Não houve jamais na história da minha vida, um mês curto tão longo. Bem o sabia com 29 dias, mas mesmo assim, na minha agenda, não parece existir lógica para tanto acontecimento em menos de 30 luas.

Ora então comecemos pelo início. No dia quatro realizei, com a preciosa ajuda do Hugo, a minha primeira feira de antiguidades no nosso quintal. No dia seguinte desmarquei uma viagem à Serra da Estrela por extremo cansaço e por esta se encontrar sem neve (ou gelo sequer).

Dias depois, a minha cabrinha bebé, a Capri, morre. Não vos vou repetir esta narrativa trágica, podem encontrá-la na publicação da semana passada. Foi bastante traumático porque nada o fazia prever, mas, especialmente porque tinha uma relação muito próxima com ela, por ter nascido dois dias depois do meu aniversário. Era um presente, uma irmã, uma capricorniana, uma bebé, um milagre. Um cabrito nascer no frio duro de uma noite de Janeiro.

Mas depois da morte da Capri, a nossa outra cabrinha teve mais três. Nasceram mais três cabritos! E onde estava estava eu? Em Milão. Este mês incluí a semana da moda de Milão e a minha vinda direta para a aldeia e encontrar outra cabra bebé morta.

Este mês a chuva não tirou folgas, nem cá, nem lá. Tem sido violento e eficaz na sua destruição. Cansados da viagem, eu e o Hugo trouxemos as duas cabrinhas bebés para casa. Fiquei, no total duma semana, 2 manhãs com elas a aquecê-las. Viagens ao veterinário, injeções, reforços com o biberão, antibiótico, remodelações na casota delas e decisões tomadas entre lágrimas e raspanetes da minha mãe “não podes viver tão intensamente”. Já as salvei umas 5 vezes da morte. Eu quero viver intensamente. Na minha lápide escrevam “nenhum dia foi em vão. não foi nada, mas foi boa, e se não foi boa, tentou sempre ser”.

Muitos outros apontamentos triviais se poderiam acrescentar a este mês, mas é desnecessário. É palha, e de palha estou eu farta. Fui a Itália e não comi pizza. Caminhámos mais de uma hora à chuva e ao vento à procura dum táxi e sem resultado algum. Completamente encharcados, mesmo saídos de um duche, olho para a loja da Vivienne Westwood e digo “entra aqui”. A rapariga da loja, muito simpática, deixou-nos aquecer lá um bocado e também tentou, sem êxito, chamar-nos um carro. A semana da moda é impossível !! Enquanto esfregava as mãos pela loja, vou até ao fundo e deparo-me com a área de vestidos de noiva. Não houve como não migrar automaticamente para a Carrie. Qual de nós nunca sonhou ser uma Vivienne bride? Mas temos sempre de acordar do sonho. A luta “à procura de um táxi às 18h na fashion week em Milão” tinha de continuar.

Quando chegámos finalmente ao quarto, nem sair para ir jantar conseguimos. o pânico era real. Só quisemos banho e cama. Milão é sempre frio e violento. Não sei porque teimo em voltar no inverno, devo ser mártir. Aliás, todas as criadoras de conteúdo Milão fora a usar roupa de verão para fotografias são valentes!! A cidade é agressiva, cinzenta e grita DEVER.

Mas sair da zona de conforto compensa sempre. Conheci pessoas para lá de incríveis. Tenho dois novos números de telefone guardados. Talvez duas amizades bonitas com duas mulheres maravilhosas.

Voltar e deparar-me uma vez mais com a morte foi o derradeiro desfecho do meu cansaço. Ok, é a natureza. A própria mãe está longe deles, está muito frio, vão morrer todos. Mas algo em mim mudou. Eu mudei. O meu cansaço transformou-se em intolerância e a minha intolerância transformou-se em vigor. Ninguém mais vai morrer. Eu estou aqui com duas vidas nas minhas mãos e elas vão purgar o meu coração da dor. Porque a vida é isto, amor. E eu vivo para amar.

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