Quando pergunto ao Google qual a primeira it girl da história, a sua resposta é simples e assertiva: Clara Bow, ícone do cinema mudo. Mas será mesmo? Desafio-me a questionar o Google pela simples evidência em que me deparo que todas temos em nós um pequeno (se não mesmo grande) fascínio por uma figura muito específica da história, e a Clara Bow em conversa alguma é mencionada.

Apresento-vos a única, a primeira, a grandiosa Marie Antoinette! Nascida Maria Antonia Josefa Johanna, em Viena, Áustria, em 1755. Oh sim, estamos a falar de história, não estamos a recuar apenas um século, mas três. Vamos até Viena, onde nasceu a MA, a mais nova de 16 filhos. Nunca foi intenção da família que MA tivesse um casamento rico; se isso acontecesse, seria esperado das irmãs mais velhas. A educação e grandes perspectivas foram direccionadas especificamente para essas. Mas a vida fez das suas e elas, ou morreram, ou ficaram desfiguradas pós-varíola e sem qualquer propensão para tal.

Temos, então, uma pequena Maria Antonia, sem uma preparação adequada para um casamento rico, quanto mais para a vida que lhe estava reservada, a de ser rainha de França (aqui teria de escrever sobre história e de como este casamento foi necessário para voltar a haver paz entre a França e a Áustria).

Apesar de não ter a formação necessária, era sabido que a pequena MA era simpática, elegante, muito bonita, sempre alegre e disposta a agradar. Tudo características atribuídas a uma criança. Pois ela tinha só 14 anos de idade quando foi enviada para França para casar com Luís XVI (e nunca mais voltar a casa).

Numa pequena cerimónia na fronteira, foi obrigada a deixar as suas criadas, as suas roupas, tudo o que lhe pertencia. Desde objectos pessoais até ao seu cão ( imaginem a dor). E naquele momento, Maria Antonia passou a ser oficialmente Marie Antoinette.

Quanto drama! Só aqui, já lhe tiramos o chapéu. Catorze anos de idade. E o que se seguiu também não foi pêra doce. Os primeiros sete anos de casamento não foram fáceis, mas depois tudo se encaminhou. A vida em Versalhes era tão ostentosa e excêntrica que os reis, e a própria MA, nunca podiam comer sozinhos. As refeições eram sempre um espetáculo para ser visto e admirado pela corte (arrepios pelo corpo).

Rainha do excesso, dos folhos, dos laços, do Rococó. Musa das musas, eterna ícone. A muito jovem Marie Antoinette via na moda uma maneira muito eficaz de afirmar a sua posição no mundo. Não como era muitas vezes vista de vaidosa e fútil, mas de imponente rainha de França!

Apenas parece que tudo o que MA fizesse era em vão, por mais que tentasse. O povo gritava de fome e não lhe via a graça que nós hoje vemos.  Todos devemos conhecer a célebre frase “let them eat cake” que, na verdade, não foi dita.

E, pouco sabendo da historia da França, acho que grande parte do ódio vinha da fome. Contínuas más colheitas e invernos severos e impiedosos, por muito pouco que a rainha fizesse, era sempre impróprio e disparatado. Em 1783, pediu a transformação de uns jardins do palácio. Quis torná-los numa pequena aldeia rural chamada de Le Hameau de la Reine (Queen’s Hamlet). Onde se refugiava com os amigos. Mas mesmo assim, foi acusada de brincar aos pobres e os seus amigos de “brincar aos pobres e agricultores”, quando, na verdade, gerava mesmo algum trabalho local. E acho que é perceptível que a rainha procurava apenas alguma paz fora das luzes e “circo” da corte. Não há como não sentir empatia.

… e a Revolução Francesa aconteceu e o resto já sabemos. Se eu acho que a morte da Marie Antoinette foi desnecessária? Acho, e injusta. A multidão atacou Versalhes e forçou os reis a abandonar a sua casa em 1789. Depois os reis foram presos (por tentativa de fuga). Primeiro executaram Luís XVI e nove meses depois, a 14 de outubro de 1793, executaram a rainha. As suas últimas palavras foram “perdoe-me, senhor, foi sem querer”.

Posto isto, agora tenho vontade de comprar uma biografia na nossa musa excessiva. O Hugo aconselha-me a do Stefan Zweig – O retrato de uma mulher comum. Marie… pour toi, tout!!

vida longa à rainha.