E, surpreendentemente, sem muito drama, chega ao fim o primeiro mês do ano. Por meados de janeiro, já depois do meu aniversário e de todas as resoluções anotadas, começo a acusar melancolia e algum cansaço pós-festividades. Sinto que dezembro e janeiro é apenas demasiado junto e, de seguida, vem o nada. A última metade de janeiro e todo o mês de fevereiro costumam ser de uma depressão sazonal bastantes habituais. Já estou tão ambientada ao saber-me assim, que já tento contornar a situação e manter-me o mais ocupada possível. Quando é possível.

Por exemplo, estou a organizar a primeira feira de antiguidades para o dia 4 de fevereiro propositadamente. Quero ter algo de bonito, e até dinâmico, com que contar. A vida no campo, especialmente durante o inverno, pode ser bastante desafiante. Eu não vivo propriamente no meio do nada, mas também já não moro na freguesia da Estrela, e não sou a pessoa que mais procura os amigos. Não sou essa pessoa, e estou pior desde o Covid. É triste, mas é verdade. Se antes eu já me achava menos proactiva na hora de combinar, agora não só já não sou proactiva, como ainda existe um autoboicote completamente nítido. Foi como se, de alguma forma, o Covid me tivesse tirado todo o prazer de conviver, ou existir em grupo. Tenho passado tanto tempo sozinha, e em casal, que acho que já só consigo estar bem assim.

É preciso referir que eu sou muito extrovertida, bem disposta, e que faço amizades com imensa facilidade. O que torna tudo o que escrevi em cima completamente disparatado. Só que não.Eu sou mesmo esta pessoa. Adoro conviver, adoro rir, abraçar, adoro os meus amigos. Apenas… agora gosto mais de estar em casa com o Hugo e a Bailey (tenho de pôr isto nesta ordem porque o Hugo sabe ler e a Bailey não).

Às vezes pergunto-me se foi só a mim que as quarentenas fizeram tanta diferença na maneira de estar na vida. É porque eu sinto-me mesmo diferente, mesmo que no fim do dia sorria e diga que não. Algo mudou mesmo. E às vezes até pondero ser coincidência e serem os 40 a falar. Mas eu conheço-me bem demais. Foi da pandemia, foi a solidão.

Como ainda é janeiro, para fazer jus à sua fama de longo e duradouro, vamos continuar o texto. Há tanto para escrever. Eu ficaria horas, mas depois, quem me iria ler?

Vamos mudar para um tema também muito falado por aqui, quase tanto quanto a depressão… a moda! Mais especificamente: Alta Costura. Longe vão os tempos onde um desfile me fez realmente sentir algo, algo verdadeiro. Estou a falar-vos da Artisanal Collection da Maison Margiella. Só o grandioso e único John Galliano para nos fazer isto. Ali estava eu, na sexta-feira à noite, deitada na minha cama, a ver um desfile de 30 minutos, em lágrimas. Bem, foi mais do que um desfile, foi um espetáculo, uma curta do Baz Luhrmann, e uma submerção num mundo distópico de bonecas de porcelana. Bonecas, imaculadamente pintadas pela Path McGrath, só possíveis de existirem ali, numa Paris escura, com neve, gelada e sombria. Aquelas personagens só podiam ter nascido da mente do meu criador preferido de todos os tempos! Que emoção foi saber que a moda vive e respira, e que o melhor desfile que “vi” foi em 2024 e que o melhor concerto que vou ver (o da Lana, obviamente) vai ser também em 2024!!

Porque é bom viver de referências, musas da história e do tempo. Mas há algo melhor do que nos sabermos parte dessa história e desse tempo? Um bravo à arte, à emoção, ao excesso, ao esplendor. Nunca quis tanto usar tule, laços e folhos. Nunca quis tanto sentir-me mulher. Nem que seja para cantar “I’m a sad girl, I’m a sad girl, I’m a sad girl”

Até para o ano, meu querido janeiro!