Sei que o texto de hoje é esperado por muitas de vocês desde aquele meu fatídico story em que escrevi que “roupa H&M, nem dada”. Foram muitas as perguntas e acho que, mas provavelmente não, consegui responder a todas. Então aqui fica, por escrito, ad aeternum, a minha explicação.

Será uma explicação sucinta e de leitura fácil. A internet está entupida de informação para pesquisarem mais a fundo, se assim o desejarem.

Podemos voltar nove anos no tempo e relembrar o edifício, no Bangladesh, que ruiu, no qual trabalhavam pessoas para marcas como a H&M e a Gap. Imagens trágicas, mais de mil mortes.
Podemos relembrar as acusações das quais a empresa foi frequentemente notícia por puxar cabelos, dar pontapés e castigar trabalhadores das fábricas, na Índia, por razões inúmeras, sendo as principais as “más costuras/acabamentos” e, o óbvio, reivindicações salariais.

Mas tendo dois dedos de testa, sabemos que isto não se aplicará somente à marca sueca. Infelizmente, foi e continua a ser uma realidade podre e conhecida, mas que o Ocidente prefere ignorar.

Para finalizar a questão laboral, acho que entrar no tema “trabalho infantil” é só tortura, pois sabemos bem que ao falar de fast fashion, este lhe está automaticamente associado.

Por isso, avante… qual foi a razão (a minha hipocrisia) que me levou de vez a deixar de comprar da marca? Vamos recorrer ao termo geral que estamos sempre a ouvir e que a marca faz questão, e questão, de nos vender: a sustentabilidade. Alegações completamente falsas provadas por fontes credíveis como a Forbes e o The Cut,a BoF, Reuters, APICCAPS, The Guardian, etc.

Mas como se traduz isto, muito resumidamente? Há anos que a H&M nos anda a fazer um greenwashing excessivo, onde nos mostra nas etiquetas que as suas peças são “eco” e “sustentáveis”, “verdes” e “amigas do ambiente”. A tão conhecida linha da marca, a Conscious Collection provou não só não ser “conscious“, como ser ainda mais poluente do que a linha-mãe, pois recorre a um maior uso de materiais sintéticos derivados de inúmeras fontes, sendo uma delas o petróleo. Ou seja, a linha Conscious Collection não só é mais cara, porque se diz mais verde, como ainda é mais poluente.

Mas não fica por aqui; é o uso excessivo de materiais sintéticos em tudo e a porcaria da etiqueta a atirar-nos areia para os olhos. O poliéster reciclado, o uso de garrafas de plástico (todo um outro tema).

Mesmo agora, pego no telefone, entro no site (claramente que já não tenho a app), e o primeiro artigo que seleciono é um “blazer oversize em sarja” 49,99€, materiais 69% poliéster, 31% viscose. Boa, 50 paus por plástico. Boa sorte com os 11 graus lá fora.

E depois de tudo isto, ainda descubro que as roupas doadas à marca, com a promessa de terem uma segunda vida, de serem recicladas (e que mais de metade é doada em perfeito estado porque somos uma sociedade viciada no consumo), são descartadas, abandonadas e enviadas para “um destino incerto em África”.

O que vos dizer? Eu compro na Arkert e sobretudo na & Other Stories, e ambas pertencem ao grupo da H&M, por isso, ao fim do dia, eu dou dinheiro à H&M. Estas duas marcas praticam valores e têm éticas completamente diferentes, mas o patrão é o mesmo. Eu prefiro mostrar “a esse patrão” que é por aí o futuro. Lã; não poliéster. Made in Bulgaria, não Bangladesh. Porque pelo menos tenho a sensação que dentro da Europa, aquela fábrica respeitará os direitos humanos.

Já não é a primeira vez que abordo o tema fast fashion. Até já mencionei que o seu boicote é um privilégio. Mas cada vez mais acho que não. O futuro está em plataformas como a Vinted, comprar em segunda-mão, investir em boas peças para durarem uma vida. E, tendo dinheiro, comprar marcas transparentes e com qualidade. A Sézane é um exemplo perfeito disso. Mas como a Sézane, é só perguntarem-me, que vos deixo uma lista de muitas mais.

Haja dinheiro. Agora a sério, cada um veste o que quer e o que pode. Eu posso e quero escolher boicotar a H&M. Mas não será a única; cheira-me que 2024 será um ano de muita pesquisa. E, porque está dentro de mim e é mais forte, termino o texto com um valente e glorioso “e viva o vintage”!

Laço Paparina