Era suposto ter acordado hoje em Paris. Era suposto, até, já lá estar ontem. O nosso voo, devido a greve imprevista em Orly, foi adiado infinitamente, pelo  que desistimos da viagem. Assim que vimos o primeiro adiamento, eu saí de mim e fiz uma análise simples do que via em meu redor: todas aquelas pessoas, naquele bloco que é o terminal 2, estão a viajar, mas a que custo? A que custo se viaja muito mais facilmente de forma “barata”, quando dispensamos o básico nas instalações? Boas cadeiras, mesas, espaço e respeito supremo pelo cliente, independentemente do custo do voo. Olhei com olhos de ver e parecia um terminal de autocarros na hora de ponta… ou pior. Pessoas sentadas no chão, jovens a cantar (eu também já fui assim) e… uma poluição visual que me fez questionar a glamourização falsa que as low costs trouxeram ao mundo das viagens. Obviamente que há público para elas, mas já não sou eu. Ainda bem que viajar já não é um prazer só da elite, mas o que há, de facto, de prazenteiro em viajar de forma enlatada e com todos os passos pagos com taxas extra. Mala de cabine? Mais 25€. Querem viajar em lugares juntos? Ok, é possível; são mais 50€. Eu já não tenho 23 anos; com 23 isto passava-me ao lado. Aos 41 quero paz, quero conforto… não quero aquilo que vivi ontem. Prefiro não viajar mais se tal significar desconforto. Se sou picuinhas a escolher a estadia, por que não o sou, também,  na escolha do voo?

Digo-vos que depois de ontem, isto acabou. Se sou consumista e não sei nivelar a minha conta bancária, não viajo. Ou, muito simplesmente, sou menos consumista, escolho voos bons e, no destino, faço menos compras. Todos temos um calcanhar de Aquiles. O meu, claramente, é o vício infinito do consumo.

Não fui a Paris, mas Paris veio a mim. Quando saímos do aeroporto, demos um pulo ao Colombo e comprei uma carteira na Maje (que tinha planeado comprar em Paris). Não cheguei a casa de mãos a abanar, mas a conta bancária está menos atestada e os nossos corações mais inquietos. Eu e o Hugo ainda não estamos bem em nós. Estas coisas acontecem, não somos vítimas, nem desgraçados. Mas 2023 está a ser tirado a ferros.

Quanto ao hotel, a noite de ontem perdemos, mas as restantes poderemos usufruir posteriormente, estilo voucher (com tempo limitado). O hotel é lindíssimo. É, por isso, um até já muito breve.

Mas não haverá mais ontem. O futuro é, também, o fruto das nossas vivências. E eu ontem aprendi muito. Aprendi principalmente que ver pessoas “digitais” a viajar imensamente, sem parar, é muito tóxico para quem, de facto, não o pode mesmo fazer (por motivos vários, nem sendo o dinheiro o principal).

Se, para mim, viajar fosse sinónimo de ir em primeira classe, esta conversa não existiria. Sendo uma comum mortal, há que ter noção dos meus limites e do que verdadeiramente me faz feliz. Esta dinâmica standard de aeroportos traz-me muita ansiedade e desconforto. Que dia repleto de emoções. A minha vida dava uma série de 7 temporadas e nem precisava de inventar conteúdo, diálogos, ou personagens. Tenho a formula toda, é só contactar a HBO.

M bag da Maje