Este é um texto mais aprofundado sobre a minha ultima publicação no Instagram.

Ainda ontem vos confessei que deixei de cuidar de mim e emagreci imenso na viagem à Sardenha e eis que o mesmo me aconteceu entre festas da quadra natalícia. Sempre que a minha rotina muda, há qualquer fusível em mim que deixa de funcionar. Pareço um pequeno rato de laboratório que se obriga a comportar de determinada maneira com determinado resultado, porque no fundo é tudo sobre ter o controlo das situações por completo.

As mesas de natal, a pressão de um novo ano e o obrigar-me a gostar desta época foram levados a um extremo ridículo. São só datas e festividades, mas este ano, especialmente sem a Eva, foi para lá de difícil e emocionalmente duro. Além de tudo o mais,  passei o Natal sem o Hugo. Exemplos entre mil, que poderia trazer para tentar justificar a minha pobre gestão de rotina.

Dou então comigo a ter enxaquecas diárias de me levarem à cama e ao escuro. A má disposição provocada pelas mesmas leva à falta de fome e isto leva á falta de nutrição. Sem alimento, a máquina não trabalha. Sem alimento, eu vou-me abaixo e consigo assistir a isto enquanto engreno outra mudança e me observo no meu próprio declínio. Visto de fora, nem compro bilhete de primeira classe. Vou mesmo lá no fim da carruagem a assistir, o mais distante possível e sem assumir culpas.

Mas onde entra o Instagram nisto tudo?
Parece que nada, mas acreditem que engloba muito. Um perfil pessoal que vive do meu dia a dia só pode ser representado enquanto me faz sentido e é, de alguma forma, agradável. Eu gosto do IG, gosto genuinamente de interagir convosco, de fotografar e criar conteúdo. Mas faz sentido forçar-me a tirar fotografias e a gerar conteúdo quando, a par dos mesmos e vendo o seu resultado final, eu me vou abaixo por completo? Não faz. De todo. É suposto fazer-me bem, fazer-vos, de alguma forma, bem. Seja para inspirar, rir ou puro acompanhamento de anos da minha pessoa na internet. Apesar de estar extremamente fraca, consigo levar o meu dia de uma forma quase “normal” até ao momento de verdadeiramente me enfrentar quando me gravo: estes olhos cravados nesta cabeça branca com um pescoço pertencem-me a mim? Esta sou eu? Vai para além de não gostar de me ver nas fotografias. Não tem sequer a ver com isso, porque a esse cenário já estou acostumada faz anos (bom remédio tinha… manter um blogue com looks diários e esperar de gostar de me ver em todas as fotos!! Ninguém tem um ego assim!)

Isto é mais profundo. É um não gostar do que vejo para além da foto por saber toda a verdade atrás das imagens. Não quero fingir que estou bem e cheia e vigor e conjuntos coloridos, para de seguida vestir um fato de treino, 3 pares de meias e me encostar a chorar. Para quê fazer isso?! Com que finalidade se vive um Instagram falso? Forçar-me 3 ou 4 dias parece quase “disciplinar”, mas perpetuar esse comportamento nada traz de bom para nenhuma das partes. Especialmente porque me sinto uma hipócrita.

“Escreve que andas sem inspiração e que vais fazer uma pausa”, diz o Hugo enquanto me observa cabisbaixa. E eu respondo-lhe: mas essa não é a verdade! A verdade é que eu não estou bem”. Estou frágil a todos os níveis e não faz sentido mostrar ao mundo o oposto. Sempre fui sincera e sempre o serei, a saúde mental e a saúde física têm a mesma importância e peso na qualidade da nossa vida. Eu, neste momento, sinto que já tenho a mão na escada para subir ao barco. Já sinto que estou a subir e que vou entrar no barco e começar a navegar, finalmente, no novo ano.

Têm sido dias insólitos. Desde ir de ambulância para o hospital na terça-feira à noite, a quase desmaiar na casa de banho e me atirar ao chão no quarto em crises de choro; o Hugo pode afirmar que vive com uma rainha do drama, mas sabe que a dor é real.

Para terminar a lista de exemplos de “como eu me sinto doente e desorientada”, eu fiz anos e nem presentes comprei. Não ofereci nada a mim própria. Para quem me conhece, sabe o quanto este gesto simboliza falta de carinho para comigo. O eu não me mimar e rechear de presentes no meu próprio aniversário é gritante de como estou abatida e domada pelo meu esgotamento. Eu vivo (quase) para me mimar. Arranjando desculpas para todas as oportunidades que tenho para justificar o meu consumo excessivo.

Afinal, há uma etapa pior do que a de estar sempre a comprar, é o não ter sequer interesse por qualquer coisa ou algo que valha a pena para sair da paralisia existencial.

Hoje escrevo porque acordei com ânimo e determinação. Já ontem acordei assim, por isso 2 dias de vitória e de volta ao trilho e ao comando. Acho que o meu ano só vai mesmo começar em fevereiro e talvez isso não seja assim tão mau. Ter-me deixado sofrer isto tudo agora, para me erguer sem fantasmas para um 2023 sereno.

2022 deixa um tumor curado, um amor de 15 anos enterrado e um casamento consolidado. 2022 também me trouxe a Bailey!! Os animais salvam-nos. Obrigada Bailey, obrigada pai, obrigada Hugo, obrigada a vocês por me aturarem também!! Bem… parece que estou receber um Óscar. Gosto de dias assim; em que sinto que consigo vencer tudo!! Vamos a isto! Este novo capítulo não se escreve sozinho!

xxx