É certo e sabido que compro muita roupa. Muita. Em demasia. Mais do que a que verdadeiramente preciso. Não compro por necessidade (salvo raríssimas excepções), mas quase sempre por dependência emocional. Sinto sempre que será a próxima peça que me trará a perfeita união entre todas as peças do roupeiro e que com esta, sim, fico com um closet completo.

Obviamente, este pensamento só dura até a peça chegar e eu pôr na cabeça que afinal ainda falta comprar mais uma. Só mais aquela. E esta história repete-se desde que me lembro de comprar a minha roupa com a minha mesada.

Toda esta introdução serve para vos enquadrar no tema que trago hoje: a venda de roupa online. Desde muito cedo que comecei a vender a minha roupa (90% das vezes nova e sem ser usada) a amigas. Com o blogue, juntei-me à minha amiga Carmo e fazíamos as private sales em minha casa. Estas correram tão bem que foram tópico para 2 páginas inteiras na revista Time Out. Depois das vendas privadas, começámos a fazer o bloggers market. Correram todos sobre rodas e a dinâmica seguidoras/clientes não poderia fluir melhor.

Em 2020 veio a pandemia e achei que criar uma página de vendas no Instagram seria uma boa ideia. Uma página pequena, privada e à qual só as minhas seguidoras tivessem acesso. A isto foi aliado uma mudança drástica de viver quase uma década em Lisboa e ter decidido mudar para o campo. A quantidade de coisas (no geral) que temos só nos é revelada em toda a sua amplitude quando somos deparados com uma mudança de casa.

Estava decidido… muita coisa tinha que ser vendida. Até aqui tudo bem; primeiro ano do Hellascloset a correr na perfeição, seguidoras/clientes simpáticas, umas mais do que outras, mas eu não sou ninguém para julgar alguém por uma troca de DMs trivial. Até que eu começo a perder o fio à meada e me apercebo (porque vou cuscar) que estou a dialogar com uma cliente e não com uma seguidora. É que eu topo logo, sou uma detective nata. Ou seja, estou a falar com alguém que segue a minha página de vendas, mas não segue o meu perfil pessoal. Mas que tem isto de mal, perguntam vocês? E eu respondo: tudo. É tudo o que me causa mais pavor; lidar com estranhos caídos do nada com exigências e perguntas descabidas. Aqui começa o drama: “Só foi usado mesmo uma vez?!?! Mas pode tirar mais fotos? Posso ver a costura? Pode vestir para ver como assenta em angulo X?”… Ontem dei comigo a parar 3 vezes o filme que estava a ver, para fazer vídeos e fotos e vestir e despir, para no fim os vídeos e as imagens darem como “vistas”, mas sem qualquer resposta. Obrigada, pais, pela educação que me deram. Vocês não percebem mesmo o que a falta de educação gera em mim. É óbvio que eu não entro a matar e ignoro, mas será que ignoro verdadeiramente se depois fico a matutar no assunto, cabisbaixa por me aperceber de que as pessoas são “assim”, rudes e indiferentes ao próximo? Atenção, isto aconteceu ontem, mas já me aconteceu inúmeras vezes!! E por norma, como vos disse, é sempre vindo de alguém que só segue a página de vendas. Quanto mais perguntas fazem, menos ação haverá. Eu já começo a topar isto e o pior, a ter medo de continuar com a página por motivos de sanidade mental.

Vamos a mais exemplos. Camisola da Mango: preço original 39,99 euros, só usada 1x, a vender por 5€ e sem qualquer marca de uso. Pergunta da cliente: os portes para “país X” estão incluídos na peça? Claro, e na encomenda vai também um vale no El Corte Inglés com validade de um ano e um almoço na Padaria Portuguesa! Seria esta a resposta que eu deveria dar. Mas obviamente que não, eu sou demasiado cuidadosa, demasiado tansa e respondo: não, os portes não estão incluídos, obrigada.

Ok, ok, eu consigo exemplos melhores. Casaco Bimba y Lola: preço 325€ novo, nunca usado; ainda com o cabide e o saco de proteção incluídos. Vendo por 100€; porque se há coisa que sou é zero gananciosa, careira, oportunista… Acho que quem me acompanha sabe isso. Comprar no Hellascloset é comprar achados de uma mulher que, claramente é descompensada, mas ao menos que essa descompensação sirva para alguém usufruir de peça X, não podendo talvez comprá-la a preço de loja. Onde ia eu? Ah, o casaco de 325€ a ser vendido a 100… Pergunta de uma cliente: aceita 50? Vou ser sincera: não respondi. O que se responde a isto?? Mas acho que começam a perceber no que o meu safe place se tornou: um OLX ou página de vendas do Facebook. E perdoem-me a veracidade das minhas palavras, mas eu não preciso disto. Para mim, comprar e vender roupa em segunda-mão é divertido; é uma troca de interesses. Somos, obviamente, mulheres que gostamos de roupa e isso une-nos mutuamente. Não vou vender um casaco NOVO de 325€ por 50€, prefiro dá-lo a uma amiga.

Começar a ver o Hellascloset a tornar-se uma feira online onde se regateia, se ignoram respostas e não flui a comunicação, para mim não dá. Eu vendo roupa para comprar mais roupa. Nada mais que isto! Não é para pagar contas, não é para comida, não é para viver. É um hobby, é uma paixão. E acreditem ou não, a “má onda” que aconteceu, especialmente ontem, deixou-me muito triste. Há pessoas intragáveis… secas, rudes, forretas, e andam caídas nestas páginas a queimar horas de uma vida que claramente não têm. Ah ah ah, entretanto, o Hugo olha para mim e desaconselha-me de ser tão dura… Mas eu sou brava!

Mas o que fazer? Só aceitar seguidoras? Eu vejo as minhas seguidoras como minhas amigas; somos uma comunidade, temos os mesmos valores, mesmo que não a 100%, pelo menos alinhados. Decidi fazer uma limpeza à página. Primeiro: só me podem seguir seguidoras, pessoas que tenham a minha palavra como verdade e não questionem a minha moral. É que a maioria das peças que vendo está entre os 10 e 20 euros. Não cabe na cabeça de ninguém regatear ninharias durante horas e deixar-me sem resposta.

Acham que exagero? Também já sofreram com vendas online? Sou eu que tenho azar e me calham tesourinhos deprimentes destes?

No fim do dia, o saldo é positivo. 90% das vendas são espetaculares, com pessoas espetaculares. Simpáticas e decididas. Vamos mesmo perder 4h a pensar se queremos uma camisola de 10€? Por muito duro que soe, quem não tem dinheiro não tem vícios. E acreditem que eu bem queria ter mais dinheiro, ou não estaria aqui a desabafar convosco sobre os dramas que é vender roupa para comprar mais roupa. Haja paciência para a pobreza de espírito e força para manter a sanidade mental intacta nos dias que correm. Vivemos entre lobos, mas na minha “casa” só entram os dóceis, os sensíveis e os cordiais.

Obrigada por me lerem e desculpem o desabafo.

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