Hoje falamos de bom gosto. O que é ter bom gosto e como se avalia o mesmo? O gosto é uma questão tão pessoal e subjectiva que carece de uma definição exacta. Por norma, associamos o bom gosto à elegância; não uma elegância de ostentação, mas uma soma de graça, simplicidade e harmonia. Contudo, deparo-me muitas vezes com esta questão: muitas pessoas que se vestem muito bem, têm uma casa feia, mal decorada, os seus acessórios básicos, desde a escolha da escova de dentes ao pano da cozinha, são feios e carecem de curadoria. Porque nos preocupamos tanto em vestir bem se neglicenciamos o resto? Dinheiro não é a justificação óbvia, porque nos dias de hoje conseguimos adquirir o que gostamos esteticamente mesmo que seja só isso, estético e sem ser sinónimo de qualidade.  Será que essas pessoas são apenas vaidosas?

Vou dar um passo à frente. Ignorando a decoração da casa, a maneira como nos expressamos, os livros que lemos e a música que ouvimos. Não será tudo isto, também, um reflexo e uma extensão do nosso “bom gosto”? Por mim, avalio mais depressa uma pessoa pelo seu gosto musical do que pela roupa que veste. Muitas vezes, seja por trabalho, seja por complexos, não vestimos o que verdadeiramente gostamos e nos define, mas na música… na música não há entraves. Se alguém gostar de um género musical que eu considere mau, a minha cabeça diz-me: tens mau gosto. Mas calma, eu escrevo sobre isto apenas por curiosidade. Em boa verdade, não faço juízos sobre ninguém e sei-me desprendida de julgamentos. Vivo bastante na minha bolha; um exemplo: a minha mãe perguntar-me se gosto do carro de pessoa X e eu nunca ter reparado no carro dessa pessoa. Eu sou assim. Mas mesmo sendo assim, há espaço para me questionar: não é o bom gosto uma união e a soma de todas as nossas escolhas?

Será que, muitas vezes, socialmente, confundimos o bom gosto com o poder de compra e a vaidade? O verdadeiro bom gosto não exige fortunas, não precisa de reluzir e muito menos de intimidar. O verdadeiro bom gosto é transversal no nosso dia a dia. Desde a escolha dos nossos lençóis a uma simples escova de cabelo. Ou será já isto outro tema? Serei eu um ser tão visual, que tudo o que me envolve necessita de ser uma extensão de mim?

No fim do dia, considero que dentro do bom gosto, a forma como nos vestimos é talvez a que menos diz sobre nós. Porque a roupa é o nosso escudo social, a nossa máscara para enfrentar o mundo. Mostra-me a tua estante de livros e a tua gaveta de pijamas e aí podemos falar de gosto. Mostra-me as tuas entranhas e eu digo-te quem és. Talvez seja possível ter bom gosto só numa área e descurar as restantes… quem sabe! É possível?! Por exemplo: pode um aclamado decorador de interiores ter mau gosto cinematográfico? Ou isso acrescenta e define o mesmo?!

É também importante distinguir o bom gosto de forma e bom gosto de conteúdo. No final do dia, o mérito final vai sempre para um bom coração.  Mas seja numa mesa de chá, seja num embrulho de aniversário, o bom gosto nunca cai mal.

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