Provavelmente já passaram por esta dor; provavelmente eu sou só mais uma, entre tantos, que choram a partida do seu amigo leal e companheiro. Mas se nunca passaram por isto, eu conto-vos mais ou menos como é.

A Eva veio para mim tinha eu 24 anos de idade. Um coração estilhaçado após perder a minha anterior Chow Chow com apenas ano e meio. Pensávamos que ela estava apenas mais redondinha, mas afinal era mesmo um tumor de 2kg. Ficou-se na cirurgia.

Corri meio mundo a tentar “substituir” a Prada. Tinha de ser igual: Chow Chow, fêmea e clarinha. Descobri um criador em Cascais e a coisa resolveu-se rapidamente. Eu e a minha mãe tínhamos agora em mãos uma bolinha de pêlo à qual iríamos fazer todas as vontades, nunca dizer não e viver para ela; apresento-vos a Eva. Não podiam sequer fazer contacto visual com ela que começava logo a rosnar, era teimosa (diva mesmo), calma, leal, a mais linda de todas e muito, muito companheira.

Chamei-a de Eva porque é o meu nome preferido e aquele que iria dar se tivesse uma filha. Mal eu sabia que aos 40 a iria enterrar e ela tinha sido mesmo isso, a minha filha. Sempre aconteceu; eu tive uma filha e chamei-a de Eva.

Eva de primeira, Eva de princípio, origem e recomeço. Eva: foi tudo isto que foste para mim. O amor que tenho por ti ultrapassa a vida humana, a vida por si só. Enquanto eu viver, tu viverás. No teu chão vão nascer rosas e sobre ti brilhará sempre o sol. Foste a luz dos meus olhos, a minha companheira entre lutas e conquistas. No bom, no mau, no muito bom e no muito mau. Foste a minha sombra e eu devo-te a minha vida, porque tu sabes que muitas vezes se atravessou a loucura em dor e eras tu a minha âncora. Por mais forte que se fizesse a maré.

A Eva era a definição de “só ter olhos para uma pessoa”, mas este texto não pode ser lamechas porque a Eva era uma guerreira. E este texto é uma extensão da (ainda) existência dela.

Quinze anos de vida dão pano para muita manga e conversa para muitas horas. Quinze anos da minha vida adulta onde ela vive em cada memória. Desde o início do blogue ao meu último coração partido, ao isolamento numa pandemia e um ano inteiro de cirurgias (minhas) em 2015.

Tinha de dedicar um post à minha Barbie Urso de Peluche. Esta era uma das muitas alcunhas pela qual a chamava. Esta e todas as pirosices que consigam imaginar, com voz de boneco animado sempre a chamar por ela.

Este dia teria de chegar, mas achamos sempre que não vai chegar nunca. Quando o teu coração parou de bater fiz-te vénias e gritei-te em lágrimas “obrigada”. E obrigada parece tão pequeno, mas é tão grande. Obrigada minha doce Eva, obrigada meu amor. Se fechar os olhos ainda aqui estás. Encontramo-nos onde estiveres, quando o barco me vier buscar e me reunir a ti.

Eva 09/12/2007 – 30/09/2022