A beleza e a idade serão sempre temas recorrentes no meu pensamento, seja porque somos invadidas com publicidade para a eterna juventude, seja por medo de perdermos algo. A idade significa envelhecer e envelhecer significa, obviamente, o ir ficando menos jovem e desejável. É sabido que é possível envelhecer bem e ter até mais magnetismo depois dos 40. É possível e é visível em casos tão evidentes como o Jared Leto, o Pharrell Williams, a Shakira, a JLo e tantos outros.

Vemos estas pessoas que referi a caminharem pela vida com sensatez, ou seja, a não se modificarem ao ponto de se tornarem mais uma cara igual a todas as outras que vão aparecendo e replicando internet fora. São autênticas, únicas e mantiveram-se leais às sua fisionomia.

Pergunto-me: como envelhecerão estas pessoas que têm todas os mesmos lábios, os mesmo olhos à Bella Hadid e exactamente o mesmo nariz? Com toda a certeza, será interessante ver esta evolução. Os genes são um grande factor na equação; contudo, após tanta cirurgia, como ficarão as “pessoas iguais” com o passar do tempo? Estamos a experienciar uma vida nova, estamos a fazer e a ver a história da cosmética. Todos estamos a querer e a ter as mesmas feições, e a desejar o mesmo ideal de beleza. Começou com as Kardashians e logo de seguida com os filtros do Snapchat e damos por nós numa sociedade que quer ser toda igual e pertencer à mesma elite. Uma cara nova, “A cara nova”, é sinónimo de um estatuto social inexistente pré-social media.

Qualquer influenciadora, IG model, modelo, youtuber, jet-setter, tem rigorosamente o mesmo estilo. O cabelo longo e castanho escuro, um misto de etnias que não percebemos se são caucasianas como a sua identificação o comprova, pois o espelho e o Instagram dizem “Médio Oriente” versão século XXI. O mesmo rabo excessivamente redondo, a mesma cintura de vespa e, obviamente, a mesma maneira “casual” de ostentar (o antigo show off agora chamado de flexing) riqueza, poder de compra e luxo.

Não consigo seguir pessoas que me deixam de parecer pessoas e começam a parecer avatares. Deixa-me perplexa ver tantos clones e a vida se ter resumido a existir digitalmente à procura da imagem mais perfeita e a vida mais invejável.

Por muito estranho que pareça, cada vez mais gosto de me sentir diferente. Ácido, botox ou fillers são ainda palavras que não passaram por mim, pelo meu corpo. Mas atenção (!!) que este é outro tema e sobre o qual nada contra tenho, a não ser quando estes procedimentos são realizados em pessoas extremamente novas. Procedimentos destes em peles joviais parece-me bizarro e até grotesco. Interferir de forma tão desnecessária na inocência pura de uma pele imaculada. Sei que o botox tem imensas funcionalidades estéticas fundamentais para a autoestima, seja para travar sorrisos com excesso de gengiva, ou outras intervenções que nada interferem com o querer “ser igual” ao modelo original da fornada.
Mas voltando à linha de pensamento inicial, cada vez gosto mais da diferença. Gosto e sempre gostei de não ser mais uma, seja na maneira de vestir ou na maneira de existir. Sempre remei contra a maré, contra a corrente e a queixar-me ao mesmo tempo  (!!) porque só a idade traz resiliência, sabedoria e compreensão e nos 20s não tinha nenhum dos três.

Para onde caminhamos? O que se segue? Vamos mesmo continuar a ver todas as raparigas a tornarem-se a versão 78905643379 da pessoa Y? Bem sei que os padrões de beleza se vão modificando, mas e se voltar a ser desejável, como nos anos 90, o corpo heroin chic, onde a extrema magreza era a derradeira das tendências? O que farão todas as pessoas que fizeram um BBL e que se mudificaram a um estereótipo IG baddie?!

Tenho muitas vezes estes pensamentos, seja enquanto faço o meu skincare e me apercebo que a minha cara e os meus dentes se tornam menos jovens ano após ano, ou quando de forma perplexa me deixo ir pelo IG fora a ver “pessoas” recomendadas para mim.

Sou da velha guarda? Talvez. Isto de envelhecer é bom; é sinal que continuamos cá, que estamos vivos! Acho que apesar deste tema ser provavelmente um tormento para a autoestima de muitas de nós, para mim é um grito de liberdade sentir-me diferente. Não, não quero um rabo característico de outra etnia, não quero ser um robô, não quero mudar nada a não ser cuidar melhor de mim. E as rugas, quando começarem a aparecer, depois vemos e dou-vos o meu parecer. Não vou falar do que não sei, mas falo do que sei e sei que ter 40 e comparar-me com miúdas de 22 é tóxico, irreal e nocivo ao mais alto nível físico e mental. Se eu fosse mãe de uma adolescente nos dias de hoje, teria como prioridade a autoestima. É gritante a falta de valores fundamentais para a felicidade na sociedade de hoje. Se eu pudesse, falava com todas as Joanas de 13 anos e talvez, talvez conseguisse salvar 3. Já era bom, seriam 3 a fazer a diferença, 3 a caminhar na vida com apreciação, gratidão e razão. Por que estamos nós aqui, qual o nosso propósito? O que fizemos hoje que nos elevou e mostrou que a nossa existência não é insignificante ou vazia? A beleza externa é uma doença, uma pandemia, uma maldição que todas queremos ter. A beleza interna é demasiado preciosa, longa e complexa para o texto de hoje. Mas com ela sim, chegamos ao fim do arco-íris, todos os dias.

Fotografia Artur Belebeau

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