Se me fosse dado a escolher um dia de tratamentos em casa ou num estabelecimento com profissionais, a minha escolha é dada sem hesitar: casa, sempre e para sempre.
Tenho em mim um bichinho carpinteiro que me impede de usufruir de prazeres que muitas de nós procuram e pagam. Eu nego ofertas de idas a spas, tratamentos faciais e visitas a salões por puro desconforto e inquietação. Não consigo descontrair e apenas deixar que tomem conta de mim, não consigo delegar pequenas tarefas como uma simples depilação ou coloração do cabelo. Desde muito nova tenho esta postura. As minhas únicas excepções são fazer um penteado ou um blow dry e uma ou outra massagem terapêutica. Fora isso, ninguém põe as mãos em mim (e vou cortar as minhas unhas dos pés até ter 90 anos e ficar corcunda).
A ideia, por exemplo, de me enfiar num salão e passar lá 4 horas (ou mais) atravessa-me e quebra-me. É tão real que me causa, neste preciso momento, um micro-ataque de pânico. Levo as mãos ao peito e respiro 10 vezes profundamente.
O que se passa comigo? Que tenho eu de errado? Muitas vezes fiz estas perguntas a mim própria, questionei-me e tentei (se tentei!) sair desta minha zona de conforto. Mas acontece que sempre que o faço, arrependo-me. Consigo encontrar nas minhas rotinas de beleza um equilíbrio perfeito entre um self-care e um me time. Prefiro cuidar eu de mim do que ser cuidada. Gosto destas rotinas de esfoliação, auto-massagem, máscaras faciais, máscaras capilares, pedicures caseiras e pintar o cabelo com a mesma tinta, do supermercado, desde 2006. Estes hábitos tornaram-se uma apreciação e contemplação da minha feminilidade. Eles cresceram e vivem comigo e eu teimo que ninguém, por mais cursos que faça, sabe cuidar melhor de mim do que eu mesma. Não só acredito mesmo nisto, como sei que a minha escolha me faz ser independente e poder fazer a minha rotina em qualquer hora e lugar.
A alegria que tenho em cuidar de mim ultrapassa todas as fobias e manias. É maior, é gigante e invade tudo. Hoje, com 40 anos de idade, não tenho qualquer preconceito ou medo em me assumir e dizer não. Às vezes levo com olhares estranhos, mas curiosamente, a aceitação da minha postura é mais aplaudida do que julgada. No limite, pouco ou nada me interessa a opinião alheia, especialmente se eu não me identificar com a pessoa. Mas isto são outras marés.
E vocês, de que equipa são, spa em casa com a vossa banda sonora, uma mimosa e danças exóticas, ou marcar esteticista e delegar as tarefas? O prazer que deve ser poder existir livremente 4 horas em conversa amena num salão… entre um riso tímido e nervoso, concluo o meu testemunho. E bem dentro do tema, vou cortar as unhas, tomar banho e fazer uma bela máscara capilar, enquanto me esfolio e falo com os meus botões. É que o self-care time é também um momento bonito de introspecção e meditação.
A idade traz isto, o viver bem e confortavelmente na nossa pele, por mais singular que ela seja.
roupão Helmstedt