Quando a Netflix, e metade das pessoas no meu feed do Instagram, me sugeriu ver a série Emily in Paris, não foi de imediato que cedi. Pensei para comigo “boring”. Mas em cada plataforma que acedia, lá estava, teasers da série, suspiros em captions em fotografias no IG com throwbacks seguidos de “oh I miss Paris”.
E cedi, vi a série. Se foi feita pelo criador de Sex and the City e os figurinos são da autoria da brilhante Patricia Field algo terá de bom. Mas, terá mesmo?
Pergunto-me, quem sou eu para analisar uma série. Mas respondo a mim própria de seguida, alguém que viu e vê a Sex and the City como uma série icónica (que vi e revi vezes sem conta, tenho todos os DVDs e sei falas de cor) e, principalmente, alguém que não só ama como “vive” a verdadeira Paris. Sabem que no mínimo 2 vezes por ano pico o ponto e vou matar saudades. Tendo a minha melhor amiga lá a viver há largos anos, posso afirmar que conheço a espécie parisienne para lá de bem. Não concordo com tudo o que é sempre explorado pelo Darren Star. A SATC perdeu alguma originalidade quando a Carrie se mudou para Paris e a temporada 6 se encheu de clichés parvos e roupas descabidas. O mesmo acontece com esta série. Emily, uma rapariga nos seus 20, de Chicago, vai para Paris trabalhar em marketing e redes sociais no sector de luxo. Óbvio que não fala francês. Porque haveria de? Tem como filosofia fake it until you make it e, com a sua energia vibrante e os seus sorrisos, espera que meia Paris a aceite e aplauda. O espectador pensa: “Possa, coitada, pobre rapariga, então!! Dêem-lhe tempo para aprender a Língua, para se acomodar, para conhecer a cultura. Estes parisienses são super hostis.”
Mas claro… Conhecer a cultura? What!? Eu conheço a cultura!! Torre Eiffel, croissants, champanhe e boinas. Uma season repleta de lugares comuns descabidos e demasiadamente revisitados e um styling absurdo e irreal.
Como é mesmo de moda que mais falamos cá vai, como é possível em 10 episódios, a actriz principal Lily Collins (Emily) ter mais de 15 peças Chanel, andar sempre de stilettos e bucket hat, combinando os padrões e as peças mais irrisórias num misto de um estilo sem nome, ADN ou realidade. A moda é para nos fazer sonhar, mas com ideais possíveis e comparáveis. Alguém, genuinamente, conhece uma pessoa que se vista como a personagem Emily? Eu não, e (infelizmente, acreditem) conheço muitas pessoas de muitas áreas e de vários países.
Ao longo da série são imensas as referências básicas à Cidade Luz e muito se perde no que poderia ser uma nova abordagem à eterna cidade do amor e da moda.
Mas nem tudo é mau. Duas personagens, de facto, estão muito bem conseguidas a nível de styling. A chefe de Emily, Sylvie e a amiga Camille. Gostei especialmente desta última. Cool e effortless como uma genuína french girl. Mas, claro, não nos podemos esquecer da personagem principal, aquela personagem que supostamente o Darren Star faz questão de nos impingir mais uma vez. Uma Carrie versão 2.0, que se torna influenciadora do dia para a noite com as fotografias mais absurdas e os hashtags mais ridículos. Aquela personagem que tem de ser humana e para ser humana é preciso errar da forma mais lamentável. Spoiler alert; a Emily dorme com o namorado e com o irmão de Camille. Mas, quem fica assim tão surpreendido? Na verdade, é uma série leve talvez para um público mais jovem e que, obviamente, não tem tanta ligação e conhecimento da cidade e das suas pessoas e que, de certa forma, vive através deste original Netflix um possível conto de fadas tingido apenas pela lente de um americano.

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