E aconteceu, três anos após ter decidido que o campo era onde me sentia verdadeiramente mais feliz, tomei a derradeira iniciativa e rescindi da minha casa de Lisboa. Vir viver para o campo é mais que mudar de casa, é mudar de estilo de vida, de regras e de rotinas. É escolher a minha saúde mental, é escolher o que sei que quero e, acima de tudo, o que não quero.
E o que não quero mais eu? Pessoas. Pessoas em todo o lado, trânsito, caos e poluição visual e literal. Dou comigo a ter dias inteiros desperdiçados ao volante a fazer tarefas de um lado para o outro, a não ter onde estacionar quando volto a casa e, a não ter um sistema de transportes públicos, sem ser autocarro, mesmo vivendo no centro. A frustração de viver num aglomerado de limitações e restrições físicas e mentais deu comigo a detestar a minha cidade natal. A gastar rios de dinheiro em Ubers para me conseguir deslocar e voltar a casa a saber que o carro estava ali, bem estacionado, e sem mais uma multa como presente no vidro.
Viver dependente disto é apenas um pequeno exemplo de tantos outros motivos que poderia apontar. Mas, a realidade é que não deixo a cidade pelos seus males, mas escolho o campo pelos seus bens.

O meu contrato acabava a 31 de Janeiro de 2021, nessa altura, a minha casa de campo, que está em construção, já estaria terminada e a transição seria então aí. Contudo, devido à situação actual de pandemia e à falta de civismo visível na nossa capital, não tenho outra alternativa a não ser mudar-me já para um lugar mais pacato, mais seguro e, no limite, mais responsável.
Se me seguem e acompanham os meus posts, sabem que tenho o meu sistema imunitário no mínimo dos mínimos, que estou a atravessar um período onde o meu peso e saúde não abonam e, onde, contraindo o vírus, não teria maneira de ser medicada visto o meu corpo rejeitar a maior parte da medicação existente. Num quadro violento de Covid-19, será muito difícil arranjar medicação.

Imaginem, esta semana foi a primeira vez que fui a um supermercado em mais de dois meses. Em pleno isolamento no campo sinto, mais que nunca, a diferença que é saber-me tão frágil e diferente dos que me rodeiam. Mas decidi não ver isso como algo que me torne um elo mais fraco, porque não torna. Torna-me apenas mais atenta e a ter de ter excesso de zelo. Assim sendo, até a minha linda (mesmo linda!) casinha estar concluída, vou mudar-me para o centro histórico da cidade de Tomar. Vou para um apartamento igualmente lindo onde estou a 10 minutos da casa do meu pai, onde, como sabem, tenho as minhas cabrinhas e a minha tão adorada piscina. Decidi não ficar aqui na quinta, apesar de ser grande, porque preciso urgentemente de voltar a ter o meu canto, o meu espaço, a minha rotina.
Estou desde 12 de Março a viver de uma forma nómada, com roupa ainda em Lisboa, com roupa aqui em caixas na Adega, com roupa em caixas no sotão e com as minhas coisas espalhadas.

Estou desejosa de fazer a mudança para o meu apartamento super cute no centro de uma cidade tão cheia de História e rica como a minha linda Lisboa.

Nunca é um adeus definitivo à minha cidade natal. A minha mãe mora lá e tenho sempre o meu quarto de adolescente à minha espera quando bater a saudade. Mas, por enquanto, é aqui que sou feliz. A acordar com a vida animal. No campo, com o silêncio do nascer do dia, conseguimos distinguir a diversidade de pássaros e os seus diferenciados cantos. É uma paz e um viver numa quietude e estabilidade que tanto estimo e preciso.

Padeira todas as manhãs à porta, animais, passeios de bicicleta, tardes ao sol no terraço e o saber-me livre e leve mas firme, tão firme, como nunca, mas para sempre, porque o destino somos nós que o escrevemos e o meu tem um “just fucking do it” porque, mais que nunca, o que eu realmente quero é isto. Isto!! Eu, o Universo e a única verdade irrefutável “choose only one master: Nature”.

E não há nada de errado em gostar da vida na cidade, eu vivi toda a minha vida na cidade. Se há dez anos atrás alguém me dissesse que eu estaria a escrever este texto, rebolava no chão a rir. Mas a vida é assim, uma plena Lei de Lavoisier “… nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. E eu transformei-me.

Vestido e Chapéu Zara/ Botas Cowboy Urban Outfitters (2018)