Sempre gostei de me rodear de coisas bonitas. Não faz sentido haver curadoria num roupeiro e numa imagem pessoal e depois viver num lugar desarrumado, feio ou caótico. O ambiente em que vivemos deve transmitir o que somos, ser uma extensão de nós.
Tal como a escolha de uma camisola, para mim, a escolha de uma cadeira ou de um simples bloco de notas nunca é deixado ao acaso. Eu sou a minha casa e a minha casa é o reflexo de mim. 
Quando era criança, esta temática devia aplicar-se somente ao meu quarto. Mas, como boa rebelde, a minha mãe bem sabe que eu estava sempre a dar a volta aos recantos e a acrescentar-lhes detalhes que achava que tornavam a casa mais alegre. Porque, acho que era mesmo esse o meu ponto central, tornar o espaço mais agradável ao olhar. 

Lembro-me, em criança, de ir a casas de amigas e de analisar a disposição da mobília e a escolha de móveis e de pensar em como isso nada reflectia a personalidade das pessoas que lá moravam. Será que só conhecemos verdadeiramente uma pessoa quando entramos no seu ninho ou, simplesmente, há pessoas que apenas não querem saber. Ou (!!), não só não querem saber, como só procuram o mais prático, o mais acessível e o menos complexo.

Eu gosto de pensar que a minha casa é o meu templo. Desde a escolha de um jarro, ao serviço de talheres, gosto de sentir que tudo o que tenho transmite quem eu sou. Todas os meus pertences me definem e são fáceis de identificar como meus, como se tivessem todos o mesmo ADN.
Por exemplo, a mera compra de um balde, de um Tupperware, de um tabuleiro, enfim, das coisas práticas, não pode ser nunca fruto do pensamento “qualquer coisa serve”.  As minhas frigideiras são bonitas, os meus tabuleiros são da Zara Home mas podiam ser Vintage porque são lindos que dói. A minha Chaleira é bonita, you get me; Tenho prazer em rodear-me de coisas bonitas. É uma questão de curadoria, de ter gosto em ter peças bonitas e de serem mesmo todas esteticamente agradáveis.

Como já perceberam, sou o oposto de prática. Detesto ter coisas só para desenrascar e prefiro investir uma vez para todo o sempre. Óbvio que este “todo o sempre” tanto pode ser só lá para 2060 ou já já em Agosto ao lavar um prato e o partir. 

Para entrarem na minha mente, vou tentar explicar-vos como eu a vejo. Os meus olhos são duas lentes fotográficas e o meu cérebro é o Director de Arte. Juntos, vão comunicando com o assistente Sr. Coração e decidem quando a situação está picture perfect.  É tão complicado ser eu. Se por um lado tenho a casa sempre imaculada, por outro, acho que gostava de ser mais solta e de conseguir aproveitar mais a vida, e as coisas,  sem ser tão maníaca da perfeição.

Esta obsessão pela perfeição alonga-se a tudo na minha vida. À minha imagem e ao controlo em tudo. É muito exaustivo conseguir desligar o botão. Acho que nunca o desliguei na verdade. E por isso, tantas vezes opto por ter espaços brancos.
Quando renovei o meu quarto, quando o pintei e comprei uma cama nova, decidi ter apenas uma tapestry em cima da cama, um espelho alto e uma planta. Um perfeito templo de paz onde nada me incomoda. Lençóis, sempre brancos. Sujam-se, vão para a máquina e põe-se outros, também eles brancos! Imenso ar, imenso espaço, imensamente pouco de mim. Tão pouco de mim que consigo ser mais livre, mais eu.

Tenho aprendido, com a idade, que talvez mais vale um sofá menos bonito mas cheio de vida e amigos, que um sofá museu onde tremo só de imaginar alguém sentar-se lá. Tenho, também, feito o exercício de, no caso de algo se estragar, compra-se outro. O dinheiro é como as marés.
São pequenos passos no caminho do desapego do material. No sentido de, posso amar tudo o que tenho, mas nada disso pode valer mais, ou ter mais peso, que ter vida dentro de uma casa. As casas são para ser vividas e, aqui entra a Joana de 11 anos a ir à casa da Patrícia e pensar se afinal aquele sofá não foi mesmo a mãe da Patrícia que o quis assim feio, porque sendo feio, a Patrícia, a irmã e as amigas podiam pôr os pés, quem sabe, até sujar, e à mãe da Patrícia não lhe iria nunca cair o coração nas mãos.

Talvez, a mãe da Patrícia, na sua primeira casa de solteira tivesse um t1 cheio de pinta e cinematográfico, mas depois, na fase 3 da vida, a fase de casar e ter filhos, quis só existir com eles. Sem stress, sem ser Directora de Arte da sua própria Galeria, ups casa!!
Enfim… Pensamentos soltos que eu vou tendo enquanto arrefeço o meu café (Nespresso) numa chávena hipster e aprendo a saber dar a volta aos macaquinhos que habitam no meu sotão.

Continuo a achar que a perfeição ainda habita firmemente em mim, mas, já começa a dividir espaço com o bom senso. Se me vou vergar ao ponto de comprar toalhas feias mesmo sendo macias: Não. Se vou começar a comprar com a mentalidade de “é para usar”: Sim!! Amigos, bem vindos à minha casa, descalcem-se, mas não ponham os pés no sofá, ponham os copos sempre em cima de uma base de copos e tenham paciência que eu prometo que vou mudar. Eu vou mudar! Vou deixar-vos porem os pés, descalços, no sofá e escolherem a vossa base de copos preferida. Uma amiga para a vida.

Ilustração Sophie Wainwright