Nasci e cresci em Lisboa, sempre tive a certeza que era em Lisboa que me sentia em casa, em paz comigo e onde me sentia mais eu. Mas, como tudo na vida, este ciclo fechou-se, chegou ao fim e não há volta a dar. Lisboa já não me traz a sensação de pertencer. Já não me encontro entre as ruas acima e ruas abaixo da nossa capital e é no campo, no meio da natureza que, aos 37, me sinto, novamente eu.
Tudo começou com quadros de stress a passarem a quadros de ansiedade. Da ansiedade vem o pânico, os distúrbios vários a níveis psicológico e físico e o corpo pediu-me mesmo para o ouvir. Estava a viver num loop de vaidade e vazio que nada me trazia a não ser angústia e tédio. Estava entediada com a minha rotina desprovida de sentido para mim. Arranjar-me para ir a eventos, ficar em casa à espera de receber PR’s de coisas que não pedi, que não preciso e que, muitas vezes, não uso. Um jogo vicioso de um estilo de vida que já nada se traduz (e que nunca traduziu) o que sou. Mas finalmente atingi o pico, finalmente dei o grito e soltei-me das “cordas” que me prendiam a crenças que achava serem essenciais para a minha vitalidade e relevância.
Mas o que é ser relevante? E qual a verdadeira importância disso? O que é criar bom conteúdo? Criar por criar, em repeat e sem verdadeira paixão, torna-se tão aborrecido para quem vê como para quem cria. E eu já estava fora do meu limite a acenar para a minha sanidade.
Enquanto não me mudo de vez para o campo, tenho a casa dos meus avós, a casa que vocês acompanham nos stories, onde tenho a piscina, as cabras anãs, a horta, a verdadeira luz da minha vida.
Começou Julho e fiz 2 pequenas malas e mudei-me para aqui. Agora pensem comigo; Tenho infinitas roupas, sapatos, conjuntos, imensas coisas que achava precisar para me sentir feliz, não trouxe quase nada. Dou comigo a ter de escolher um outfit com as mesmas peças que usei no dia anterior, na semana anterior e a ter de as desdobrar e multiplicar usando a criatividade.
É um grande exercício trazer pouca roupa e, com ela, ter de construir inúmeros outfits. As possibilidades revelam-se inúmeras, a nossa criatividade atinge um pico de desafio e a roupa ganha outra importância. Eu trouxe o que achava que não iria usar só uma vez. Trouxe peças que sabia que poderia cruzar e abusar vezes sem fim. Trouxe básicos, cores sólidas e muitos lenços. Dou comigo a complementar um look com um lenço na cabeça e a perceber em que items me foco para tornar um look mais eu. Percebi que há coisas sem as quais não consigo estar: Ganga, fios/pendentes, lenços, t-shirts, vestidos e um cardigan de malha. Por mais que tente inventar, estas são as constantes. Não uso calças, não uso saltos, não uso anéis e não uso coisas demasiado apertadas.
Se for analisar bem, uso tudo o que me remete para a minha infância, como que um throwback aos anos 90 com o inevitável twist de agora ser adulta. Encontro nas trends dos 90’s o equilíbrio entre cool, girly, confortável e sexy como não encontro em mais era nenhuma.
A isto, junto o Sol, e a alegria e saúde com que ele nos baptiza. Uma pele beijada pelo Sol tem outro encanto. Ficamos mais doiradas, a pele ganha sardas, cor e luz. A maquilhagem é completamente desnecessária e não precisamos mais que um bronzer, um blush e um bom bálsamo labial. O Sol faz o resto. Com o cabelo o jogo é mais ou menos o mesmo, deixar secar ao natural e embrace a natureza do próprio fio. Os meus tendem a ondular, então acentuo isso com o Óleo-Curl da Kérastase. No fundo, no campo, damos ênfase apenas aos traços de beleza naturais que temos. Verniz só transparente e mesmo assim opto por não usar porque a piscina tinge e torna todo o verniz amarelo.
Só há uma parte do corpo que requer manutenção extensiva todos as noites; Os pés. Sempre de sapatos abertos, descalça, na terra e no chão, os pés são a parte do corpo que mais sofre erosão e uma mini pedi é essencial diariamente, sem quaisquer desculpas de falta de tempo e/ou paciência.
Se no Inverno preciso de me camuflar com cores e pós, no Verão, menos é mais e a sensualidade vem, sem qualquer esforço. Gosto de me cuidar com o básico, de usar um bom protector solar (Nuxe factor 50), de usar um bom Sérum com vitamina C e de beber muita água.
Acho que conseguem perceber pelas fotografias que não só tenho um aspecto mais saudável como visivelmente mais feliz. Sou mesmo um bichinho do Sol, da natureza e do autêntico e descobrir-me e reinventar-me nunca me soube tão bem.

Top e Saia Brandy Melville/ Lenço Vintage
Sandálias Urban Outfitters/ Bronzer Hoola Benefit

Photographer Diana Serpins/ Edit Hella