Começamos um novo mês e, pela primeira vez na nossas vidas, é impossível traçar planos concretos de como vai ser o amanhã. O Universo pediu-nos para abrandar, falou connosco e eis-nos, fechados em casa e, mesmo estando parados, a contribuir para um mundo melhor.  Para quem já disse que nada se alcança ficando no sofá… Oh well, the joke is on you! É mesmo isso que devemos fazer agora, ficar no sofá, parar, relaxar e aproveitar.

Mas como relaxar com tanta ansiedade e incerteza sobre nós? Como conseguir desligar quando sabemos que o mundo está a passar por uma tragédia histórica? E desculpem-me os Historiadores se o que vou dizer a seguir é uma blasfémia, é que enquanto mera cidadã que apenas tenta levar a sua vida da forma que melhor consegue, a Peste Negra é assim a única pandemia que me ficou gravada na memória. Esqueci-me de nomes de Reis, de cognomes, esqueci-me de movimentos artísticos e até de capitais de alguns países. Mas não me esqueci da Peste Negra. E embora as mortes avassaladoras que dizimaram quase 50% da população da Europa, não sejam comparáveis às mortes do Covid-19, não deixa de ser interessante tentar perceber se conseguimos tirar algum conhecimento e aprendizagem de como uma sociedade se volta a erguer num pós-pandemia.

Muitas vão ser as mudanças que vamos encontrar pela frente. Seja a nível da economia, cultura, política, etc. Mudanças sociais que trarão novos hábitos e, talvez, novas crenças. Como vai ser o programar uma viagem? Algo tão simples como agendar uma viagem e reservar um hotel vão, com toda a certeza, ter outro peso quando forem possíveis ou reais. O turismo, como vai ser passear este Verão no Chiado? Vou finalmente ver o chão da minha cidade ou voltará tudo ao mesmo porque haverá sempre alguém com dinheiro e alguém com memória curta e a vida não pára?

Tenho muitas questões na minha cabeça, tenho dias fáceis e tenho dias muito difíceis. Tento praticar a gratidão diária, agradecer o ter um tecto, o ter conforto, comida, família, amigos. O ter animais e verde à minha volta. Mas não obstante, é normal sentir-me presa, a mente pode voar e correr mundos, mas as pernas não. O corpo esta reduzido a um espaço físico que é não só obrigatório como vital. O isolamento não me custa como talvez custará a muitos. Estou habituada a estar sozinha e a passar muito tempo em casa, gosto e consigo (!) entreter-me infinitamente com diferentes e variados e hobbies e paixões.

E aqui entra a parte onde partilho com vocês as coisas que me têm ocupado a mente e o corpo. Já vou no 20º dia de isolamento e Março pareceu ter tido 400 dias. Sem quaisquer pudores vou assumir que o que tenho feito imenso, imenso é dormir! Em Lisboa, tenho bastantes problemas em conseguir dormir, aliás, desde os meus 19, que dormir é um filme sem fim. Desde medicação, meditação e tudo o que é possível de se tentar, eu tentei. O meu sono não é profundo sem ajuda de medicamentos e as noites de sono não são restauradoras sem os mesmos. Por isso, se tenho sono, aproveito e durmo, durmo até a almofada não me apetecer mais e o corpo pedir movimento. Na verdade, quando será a próxima vez que vou ter uma oportunidade de poder dormir sem horários e sem que alguém (incluindo eu própria) me aponte o dedo.

Tenho lido, tenho visto muito youtube e séries. Tenho passado muito tempo com as minhas cabrinhas. Tenho tirado fotografias e alimentado as redes sociais. Passo mais tempo ao telefone. Mando áudios e falo em facetime com amigos. Tenho também feito algumas compras online e feito exercício no meu yoga mat.

Acima de tudo, tenho-me tentado conectar ainda mais comigo própria. Trouxe a minha salvia comigo, tenho rezado e conversado com o Universo. Peço ajuda e força e agradeço a vida que corre em mim. Estou consciente de tudo, estou presente no momento e com a atenção plena de tudo o que vivo. Estou viva e com a certeza que quando voltar a pegar no carro e conduzir em liberdade e sem destino, vou ter lágrimas de felicidade a correrem-me rosto fora. Só damos valor ao que temos quando o perdemos não é de todo já a minha página, já não é sequer o meu livro. Espero que estejam todas bem, verdadeiramente.

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