Podia ter escolhido vários títulos para este texto, mas achei que as palavras da Lana seriam as perfeitas. Tudo começou algures em 2013, após decidir, finalmente, ouvir a Lana del Rey, que ia sendo casualmente mencionada nas plataformas digitais que eu consumo. Mal ouvi a Video Games, eu soube, já não havia volta a dar. Que melodia era esta, tão não de agora, tão nostálgica, mas também inovadora?!
Quanto mais ouvia, mais gostava. Canção atrás de canção, todas tão únicas, um som tão envolvente e preenchido de poesia. A acrescentar à sua música, o derradeiro precipício foi a estética da Lana. Os seus videoclips gravados em estilo 8mm, vintage e todo um imaginário Sad Girl que definiu os anos 2014. As tumblr girls vão perceber, as miúdas do grunge e do metal vão perceber, as encurraladas no caos de um amor impiedoso vão perceber.
A Lana foi o meu escape à realidade exatamente durante dez anos. De 2014 a 2024, era raro acontecer um dia em que eu não a ouvisse. Raro, raro, raro. Tornei-me uma fã assumida, leal e devota. Comprei todos os seus álbuns, ouvi e chorei a sua poesia e espalhei a palavra como um apóstolo.
(Acrescento ainda que tenho duas tatuagens suas, caso a loucura não seja bem perceptível nas minhas palavras.)
Continuando a linha de pensamento, em junho de 2024 este imaginário foi-me retirado de uma forma abrupta e inesperada. Como assim, ir ver a minha artista preferida ao vivo vai ser terrível?! Impossível!! Vai ser mágico, uma união de almas/estilo culto vai-se reunir e eu vou VER a minha musa.
Posso dizer que a culpa é por ter sido em festival e não em concerto. Posso ainda afirmar, com certeza absoluta, que a equipa técnica do festival foi uma lástima nas primeiras canções e os instrumentos não estavam no mesmo tempo que a voz da LDR. Tudo isto foi verdade, mas nada disto foi o que quebrou a magia.
Adolescentes de 13 anos com laços na cabeça em modo cosplay faziam filas para entrar no recinto. Poderia descrever a fauna humana que vi. Poderia até parecer snobe e elitista, mas não o sou. Eu gosto do ganzado ao meu lado a sentir cada palavra que canta. Eu gosto da desgraça e da violência com que a música nos atravessa e anestesia. Eu estava na fila para a Taylor Swift. E a Taylor é grande, mas eu não sou da sua turma.
Tudo isto para dizer que não me identifiquei com nada do que vi. Ao fim da terceira canção, já tinha mudado tantas vezes de localização na multidão que percebi: não vai haver nenhum lugar bom. Mais ao fundo, estão os grupos a beber e a falar alto sobre temas variados, e mais à frente, não ouço a Lana, só o ruído de miúdas a gritar as letras de coisas que nunca viveram. Se é preciso renascer das cinzas para se ser fã da Lana? Obviamente que não. A música é das pessoas, é arte para o mundo. Mas eu precisava mesmo de encontrar o meu gangue!! Eu precisava mesmo de me sentir em casa. A casa que eu imaginei durante uma década e me proporcionou um apoio emocional inegável.
Quis vir embora, o Hugo pediu-me para repensar. Abracei-o a chorar em pânico, pois sabia que isto seria muito mais do que uma má experiência. Isto era também a morte literal da existência do meu mudo mágico e do escapismo diário.
Vi o concerto na zona da restauração, com um copo de coca-cola zero na mão. Fechei os olhos e fingi estar tudo bem, porque estava. Apenas agora iria ser diferente.
Quando partilhei a minha desilusão convosco no Instagram, a maioria disse-me que sentiu o mesmo quando a viu ao vivo. Ou melhor, que não sentiu; não sentimos a magia.
Outras, partilharam que levaram a filha, a filha e as amigas e que viveram o seu momento Lana com elas. Houve partilhas muito bonitas, que de certa forma me fizeram ver tudo de um prisma diferente.
No limite, por mais prismas que te apresentem e até os percebas e valides com o coração, nada muda na verdade.
Estive dois meses sem conseguir ouvir um vinil seu, ou escolher um álbum seu no Spotify. Precisei de me distanciar para me voltar a entregar. É uma entrega diferente, mas continua a ser autêntica.
A Lana é para ouvir em casa, é para ouvir com os vidros abertos enquanto conduzo. A sua presença em palco não teve qualquer carisma para mim. Vou a concertos desde os 15 anos e sou da velha guarda. Se não é para dar tudo em palco, está tudo ok, mas não é para mim.
Com tudo isto percebi que mesmo em concertos medianos, as pessoas à minha volta eram, de alguma forma, da minha tribo. Ao fim do dia, eu ainda sou a miúda do grunge que quer ir a um concerto como quem vai à missa confessar-se.
Lana, ainda te amo. Já fiz as pazes contigo, estou feliz com tudo o que 2024 te trouxe. Ainda não tens um Grammy, mas who cares (!!!), mas tens milhões e milhões de fãs!! Conseguiste, e isso faz-me sorrir. A música faz-me sorrir.
Criei um blogue de moda em 2009, mas esse blogue poderia ter sido de música. Ela é, e sempre será, a minha maior paixão.