Neste exacto momento, eu já estaria a caminho de Paris. Estaria nas portas de embarque a folhear uma revista em francês e a pensar “pff, percebo tudo”. Uma mente sempre delirante, mas activa.

Contudo, a vida aconteceu. Queimei-me na mama e mão esquerdas. Uma queimadura de segundo grau com um saco de água quente que se rompeu na vertical. Muitas já o devem saber porque o partilhei no Instagram, mas para quem não sabia, aqui fica.

Queimei-me e estou a antibiótico e idas diárias ao centro de saúde. Se cancelar a viagem me custou? Até há uns três dias a minha resposta seria um sim comovido. Entretanto, aconteceu a vida e eu permiti-me à reflexão e redenção completa de sentir tudo. Não, a minha resposta é não. Estou feliz em casa, segura, com a minha cadela a adormecer ao meu lado, com a possibilidade e privilégio de puder aceder a uma app e trazer Paris até mim.

Queria ver Paris decorada, cheia de luz e magia, mas tenho Tomar e Lisboa e duas pernas para dançar. Tenho conseguido, de uma forma reveladora, ultrapassar um acidente que, outrora, chamaria de tragédia.

Tenho conseguido criar, escrever, ler, ver vlogs e podcasts, pastar as minhas cabras e tenho explorado diferentes paixões que me enchem a alma.

Aqui, entra a música. A quantidade de canções que já ouvi, são dignas de menção escrita. A música é a derradeira paixão que me eleva e aconchega, que me abraça e me liberta.

Pôr aquela canção bem alto, deitar-me no chão, luzes apagadas, duas velas a arder. Cantar, cantar com o corpo, dançar com a mente. Sentir a vibração descer pelos ombros até à ponta dos dedos. Chorar. Chorar por estar viva e sentir tudo isto.

Acho que depois de tanto ler e ouvir sobre o Estoicismo, incorporei o mesmo. Não sigo uma filosofia de vida, vivo-a. Porque questionar as incertezas da vida é normal; vergar momentaneamente, também. Apesar disso, o meu espírito levanta-se sempre.

Podia inserir 100 citações de Séneca (o meu preferido), e todas fariam sentido. Mas deixo só uma tosca frase minha que incorpora várias suas: os deuses tomaram esta decisão por mim, e eu aceito-a. Esperem, quero deixar outra, desta vez, completamente sua:

“o sábio é livre, mesmo quando preso”