O tema que vos trago hoje é controverso e pouco discutido nas redes sociais. Não que seja completamente ignorado, mas acho que devia ser mais falado, mais discutido e muito mais respeitado.

Qual é esse tema, perguntam vocês? O álcool, ou, neste caso, a sua ausência. Eu e o Hugo entrámos em 2024 com uma decisão mútua: deixar de beber. Deixar de normalizar o abrir uma garrafa de vinho como quem abre uma água com gás às 12.30h. Esta decisão parecia difícil, mas não impossível. Seria só um ano de experiência e não foi uma decisão tomada sem quaisquer históricos, ou passado associados.

Vamos abrir as cartas; eu já bebi muito na minha vida adulta. Muito, muito, ao ponto de ser quase imune a abrir uma segunda garrafa sem pestanejar e sem o corpo sentir o efeito. E o problema do álcool reside na sociedade. É tão normalizado o seu consumo, tanto em séries, filmes, como editoriais, que damos por nós a questionar se decidir deixar de beber é sinónimo de ter um problema com o mesmo.

O motivo que me levou a deixar de beber durante um ano foi as enxaquecas. Como podem imaginar, os efeitos colaterais de me entregar aos prazeres de Baco eram imensos. As enxaquecas eram mesmo impossíveis de controlar a sua escala e, muitas vezes, não era fruto de ressaca. O beber um mero copo já era entrar no inferno. Entrar, por entrar, entrava a valer! Champanhe, rum e um cocktail como adereço enquanto estamos na piscina, ou enquanto acendemos a lareira. Um copo de rosé enquanto cozinho e um shot de tequilla porque terminámos aquele prazo e o exame X correu bem. Tudo se pode tornar um motivo para celebrar. E, se virmos bem, ninguém brinda com o inimigo, pois o brinde é um pacto social de união e irmandade.

Mas… e quando bebemos para esquecer? Quando bebemos para não sentir, para desconectar e aguentar… O álcool para mim é 50/50 pois foi, ao longo da minha vida, usado para ambos.

Imaginem a minha situação; já não me alimento como uma pessoa dita “nomal”, a única coisa que me tornava catita era o rematar com um “ahhh, mas não digo que não a um copinho!”. Passo a passo, caminho para uma existência social cada vez mais impossível. Mas a verdade é que, se o nosso corpo nos diz que não tolera o álcool, para quê forçar só para não parecer mal?

É que dou comigo a contar as vezes que de facto quis beber dos últimos episódios que fiquei de cama. “Eu disse que não…” e mal dou por mim, três explicações depois, já me estão a pôr um copo na mão. Aqui entra a minha derradeira luta: o saber dizer “não”.

Existir enquanto pessoa “que já não bebe” é altamente complexo e desencadeia um questionário incontornável de indagação. Ninguém tem de ir ao lodo e estar nos AA para decidir deixar de consumir uma droga que nos retira o controlo absoluto da nossa estrutura. O álcool para mim é isso, e eu não sei se vai ser assim para sempre, porque para sempre é muito tempo. Mas sei que por agora, nesta fase em que me encontro, sou mais feliz e sinto-me mais completa a sentir tudo sem pensos rápidos.

Nunca precisei de beber para me divertir, ou conseguir dançar. Nunca vi ninguém a questionar e a pressionar o consumo de tabaco. Ao menos o tabaco tem isso, o respeito devido ao que verdadeiramente é e significa.

Estou a escrever-vos este texto porque das últimas vezes que brindei, fingi que bebi. Fingi e não disse nada por já não aguentar as explicações e o ar de pena de “pois é… que chato”.  Não há nada de chato em saber o que queremos.

Deixar de beber só me trouxe alegrias: a minha pele agradece, a minha saúde mental agradece, o meu estômago agradece… Por isso… da próxima vez que alguém partilhar convosco “já não bebo”, sugiro um “que espetáculo!!”, em vez de um “porquê?” pesado. É que nunca sabemos o que está por trás de uma decisão. E num mundo cheio de perguntas e pressão, tornei-me intolerante à normalização do alcoolismo geral.

O Hugo voltou a beber, mas só vinho. Ele pode e é tão raro acontecer que nem sequer é assunto que valha a pena ser aprofundado. Eu acho que se bebi foi por pressão, ou estupidez. Por exemplo, ainda o mês passado, só com uma cidra, fiquei para morrer com uma enxaqueca, e só bebi metade. Mas lá está, para a maioria o pensamento é “cidra nem é álcool”. Pode ser o que quiserem que seja, mas já nem isso o meu corpo tolera.

Não há nada de mal contigo se bebes, tal como não há nada de mal contigo se não bebes. Num mundo digital cheio de links e tags, deixo o meu, por escrito, e a cores: eu não bebo e sou a melhor versão de mim.