Este é o dia perfeito para escrever esta publicação. Dois anos da morte da minha querida Eva e o coração cheio de esperança, porque tudo o que havia para correr mal já correu. Não só correu, como atravessou a minha pessoa, dividiu-me. Mas não me destruiu.
Este ano, enterrei cinco cabras, das quais quatro fui eu que as encontrei mortas (sozinha). Gostando de todas, com a Kaya foi especialmente duro. Foi a minha primeira cabra anã; era a minha adorada primogénita e a mãe da tribo.
Neste mesmo ano, perdi o Boris. O meu Serra da Estrela mais fiel e feliz. Tão feliz que chorar ao seu lado era impossível. Sabemos que o tempo não para. Apesar de muitas vezes a nossa própria vida nos parecer um filme, nela não podemos fazer pausa, recuar, ou andar para a frente. O que temos é o presente, o tempo em que estamos a respirar e a viver. Perguntei-me várias vezes se era isto que queria. Se continuar a ser pastora e ter muitos animais seria mesmo a minha virtude.
A verdade é que tiro disso a mesma quantidade de felicidade que tiro de dor. A natureza é imperdoável; se vai chover, irá chover e tudo o que tiver de ir com a chuva, irá.
A vida no campo não é o que eu esperava. Esperava aquela paz eterna de uma tarde de agosto com 33 graus à sombra. O que tenho é a iminente verdade que seres dependem de mim, que parar é morrer e que uma hora sem água nessa tarde de agosto pode ser fatal.
Para quem sempre gostou de rock, mais especificamente de metal, viver no campo e gerir uma pequena “quinta” está a torna-se a experiência mais brava de sempre. Não há nada mais rock and roll do que a mãe natureza.
Ela não marca concertos, não faz festivais nem vende merch. Estamos à deriva da sua vontade e todos os dias contam porque o ritmo não pára. É a viagem mais impressionante de todas. Venham viver para o campo, comprem dois porcos, 4 perus, 3 cabras e galinhas. Vamos viver a derradeira FarmVille da vida e, nunca mais, nenhum dia é em vão.

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