Quantas vezes vos mencionei o meu fascínio por setembro? Talvez demasiadas, por isso vou ser curta: é, para mim e todas as apaixonadas pelo outono, o recomeço de tudo. Ainda é verão, ainda é possível praia e pele bronzeada, mas quando se aproxima do fim, mais portas se abrem. É somente e sempre só inícios infinitos de novidades e possibilidade. O outono é onde a magia começa, cresce e vive.

Que maravilha pegar num casaco, ir buscar a primeira manta, começar uma nova série e fazer um chocolate quente. Isto é possível em qualquer altura do ano, mas é agora que faz sentido, que sabe bem e, principalmente, sabe a saudade.

Ontem, já passava da minha hora de me deitar e estava no quintal com a Bailey. Dei comigo a olhar para o céu e a pensar “uau, está mesmo cheio de estrelas”. E enquanto rodopiava ao som de uma balada dos INXS aconteceu!! Eu vi, pela primeira vez, as constelações. Eu vi constelações! Aos 42 anos é possível ainda ser criança e viver esta magia da descoberta.

Quando olhava para o céu, via somente estrelas, algumas mais brilhantes, uma especialmente brilhante, nada mais do que isto. Ontem, vi e não consegui deixar de ver as constelações, as pequenas linhas rectas que unem os pontinhos de luz e nos transformam. O céu noturno nunca mais será o mesmo. Fiquei tão feliz que lágrimas se soltaram sem qualquer controlo. E para quê controlar, ou subestimar esta emoção? Foi tão válida, real e pura. Permiti-me senti-la em toda a sua plenitude.

Chamei o Hugo e tentei mostrar-lhe. “não consigo…” diz-me num tom claramente trágico. Somos demasiado sonhadores, seria a perfeição atingida demasiadamente rápido. Dou-lhe força e digo: tenta! Muda de sítio, vem para aqui. “Ah!! Espera, vou pôr a canção que estava a ouvir, talvez te ajude!!” E lá voltou o Michael a cantar “in the dark of night, those small hours…”, mas nada aconteceu.
Rainha do drama como sou disse-lhe: ainda não estás preparado, vai ser uma grande mudança.

Esta noite já está tudo planeado, vamos para o meio dos pinheiros, de lanterna na mão e feitiço no corpo. Tenho uma nova missão: mostrar ao Hugo as constelações.
Não me digam que a vida é monótona e que setembro é “só” o fim do verão. Eu escolhi morar numa aldeia no interior e a minha mente eleva-se todos os dias. Porque o meu corpo habita aqui, mas a minha mente está onde a fantasia me leva. E ontem levou-me às estrelas, uma astronauta de pijama de verão e meias de inverno. Chorei, dancei e concluí: está tudo certo.

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