Parece que todos os anos tenho este drama. É na verdade uma situação bastante simples, para mim, mas de difícil aceitação até mesmo para os meus pais. E se os meus pais foram testados a nível de convicções e profundidade existencial comigo.
Eu não gosto do natal e não o quero celebrar. Gosto do mês de dezembro, gosto da atmosfera natalícia, gosto até dos filmes festivos. Contudo, não me forcem a desperdiçar dois dias da minha vida a fingir. Desde a separação dos meus país, tive de começar a escolher com que parte da família iria começar a celebrar o natal. Foi sempre com a família paterna. Vínhamos para o campo, para continuar com alguma da, restante, tradição. E até à separação dos meus pais, o natal era mágico para mim. Eu sempre adorei os meus avós, sempre adorei esta hábito de virmos de carro cheio A1 acima e, especialmente, em criança de saber ter uma lareira à minha espera, um avô a cozer pão e mil brinquedos novos por abrir.
Mas aconteceu tudo ao mesmo tempo. Aos 17 a minha avó paterna morre, aos 18 os meus separam-se e aos 19 a minha anorexia nervosa, já até controlada, escala para uma bulimia diária que se apoderou de mim.
A tudo isto junta-se uma depressão do meu avô. Eu sou muito ligada ao meu avô. Falo dele no presente porque ele ainda vive em espírito. O meu avô fechava-se na adega (a minha família faz vinho) e chorava “Teresa” horas a fio. Nos natais éramos só os três. Eu, o meu pai e o meu avô. E os meus vintes foram uma névoa na minha memória. A verdade é que com o meu pai e com o meu avô eu podia e posso ser eu. Existo em plenitude e não há conversa vil e tosca, mesmo que venha de um lugar de apenas curiosidade, o que duvido.
Será mesmo possível, que ao fim de tantos anos, quer sejamos quatro ou cinco (seja com que familiares for, ninguém em mente, genuinamente, porque é mesmo geral) o tema da conversa seja sempre o eu não comer aquele “maravilhoso” bacalhau, ou este “magnífico” cabrito. E todos as ruas vão dar à Joana e ao que a Joana não come.
Eu tenho 41, deixem-me ficar em casa. Nem com 41 passo o natal em casa com meu marido, porque ele tem de ir para a mãe e as famílias são complicadas. E eu ficaria horas a explicar a complexidade de uma época que devia ser sobre amor e não sobre matemática, interrogatórios e traumas. Não tenho uma família grande, não sou muito chegada a quase ninguém e gosto da minha solidão. (Xandi, Lígia, Ana Maria.. eu de vocês curto mil!)
Não tenho filhos e já não tenho avós. Não devo nada a ninguém. Adorava poder passar o natal no meu canto a ver o Sozinho em Casa e a comer Toblerone? Podemos normalizar o não ter de satisfazer os outros no natal?! “Ah mas o Y vai ficar triste se eu disser que tu não vais…” Pois, mas se EU for, eu fico triste. A minha empatia acaba aqui. Eu, estou primeiro.
Um brinde às fotografias da infância, às memórias e aos meus avôs. Obrigada pelo amor incondicional. Foi imenso, é imenso, não aceito nada abaixo disso.