A frase do título é do imperador romano Marco Aurélio.

Com toda a certeza, já ouviram o termo “estóico”, seja relacionado com a atitude de ter uma “calma estóica”, seja por outro qualquer motivo. É uma palavra que sempre ouvi e sobre a qual nunca ponderei pesquisar ou sequer perceber.

Eis que em 2022 o estoicismo faz parte do meu dia a dia de uma forma que só posso considerar um colo, um auxílio, uma forma de existir e sobreviver, tanto no quotidiano como em momentos de maior aflição.

Fundada na Grécia, a filosofia estóica ou o estoicismo é, de facto, uma filosofia sem a parecer ser. “A virtude é suficiente para a felicidade” resume na perfeição o que significa, para mim, ser estóico. É mais do que um modo de vida, uma maneira de pensar e agir; é uma aceitação plena de que a natureza é suprema e o que determina o nosso destino não é o ato/ação que nos acontece, mas sim a maneira como reagimos à mesma. Não podemos escolher se amanhã irá haver uma tempestade, mas podemos (e devemos) aceitá-la (pois é superior a nós) e a única coisa que realmente importa é o modo como nos comportamos perante tal adversidade. O nosso comportamento é a nossa virtude. A nossa virtude é a nossa maior força.

Sendo uma pessoa, como todas sabem, que sofre imenso de ansiedade, ter uma postura de aceitação e pragmatismo perante adversidades, mudou completamente a minha vida. Parece quase insólito e exagerado dizer que quando comecei a ler Séneca, todos os pontos no meu cérebro se uniram entre si e uma aura de paz se emoldurou à minha volta. Mas é a pura das verdades. O meu primeiro pensamento é este: posso fazer algo para mudar X? “Não”, mas posso escolher a forma como a vou encarar e me vou comportar perante determinada adversidade. E por mais básica que esta filosofia nos pareça, é libertadora e mística a experiência de nos sabermos donos e capazes de controlar infortúnios, fatalidades e não só. Tento ser estóica no dia a dia. Em pequenos pormenores, desde o fazer a cama todos os dias mal me levanto, à firmeza de decisões mundanas e até mesquinhas.

Não vos quero dar um sermão sobre o estoicismo. Quero apresentar-vos ao mesmo, caso ainda não se tenham cruzado com ele. Nem poderia, mesmo que quisesse, fazer jus a esta escola de sabedoria. O meu vocabulário é limitado, tanto como as minhas intenções. O estoicismo salvou-me porque me mostrou a verdadeira sapiência. O Homem mais feliz é o que aprende a ser indiferente ao que não faz diferença. E melhor, “a riqueza consiste não em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades” (Epicteto) e eu sou verdadeiramente diferente desde que entrei neste mudo de autoconhecimento e descoberta. Sem fundamentalismos, só força mental. Sem moralismos hipócritas, só com certezas absolutas e simples: a felicidade da minha vida depende da qualidade dos meus pensamentos. Marco Aurélio, Epicuro, Séneca, Epicteto. Lê, absorve, reflete, vive e compreende. A morte começa quando nascemos, a vida acontece enquanto me lês. Tantos anos de terapia, que dois ou três livros me teriam mostrado a verdade. A beleza da vida não está só na conquista. Até porque poderíamos esgravatar a palavra; o que é a conquista? Hoje sou feliz, o meu tempo é usado de forma experiente e sábia, como quem foi ao inferno e decidiu não lá voltar. Por opção.

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