Pego no computador, trago-o para a cama e, entre indecisões e melancolia, penso: não tenho tema sobre o qual escrever hoje. Não me apetece escrever sobre algo em específico porque eu própria me encontro num estado incerto. Invade-me um desconsolo palpável e talvez exagerado de quem não tem verdadeiras razões para se queixar, além do mundano.
Esta primavera está a ser especialmente dura. Não mais dura do que a de 2020, mas igualmente desafiante. Se há dois anos eu sabia os motivos, neste ano não os sei dizer. Contudo, o não haver um motivo preciso, torna a equação mais complexa e insustentável. Mas que tenho eu; que tristeza profunda é esta que me atravessa a meio da manhã e me acompanha até à hora de deitar? Que desilusão iminente é esta que me assombra e me consome a alegria dos dias?
Após ter partilhado o meu desânimo e estado depressivo convosco, muitas me disseram que a primavera é muito propícia a isto, a este estado de inquietação. É a mudança de hora, é esta meia-estação que não é carne nem é peixe e, obviamente, as mulheres sofrem mais desta condição. Pesquisei e encontrei, chama-se astenia da primavera. A população mais afectada são as mulheres entre os 35 e os 50 anos de idade (bingo!), mas é sazonal e passa em poucos dias, coisa que não acontece comigo. Os sintomas persistem e a mente não tem alento para contrariar a infelicidade irracional que habita em mim.
Primavera, aprendi a gostar de ti; vim para o campo e compreendi a tua beleza. Vi do chão seco nascerem flores e a erva a erguer-se depois das chuvas. Ouvi pássaros cantarem em manhãs que prometiam sol, mas nada disso me trouxe a certeza de um dia estável e as tuas constantes nuvens pairam sobre mim como fantasmas acordados. Voltei à Joana da adolescência, detesto a primavera. Os dias excessivos de chuva e o seu cinzento que se arrastam, a pele branca ressacada de luz e sol, as alergias e a maldita melancolia. Esta primavera está a custar-me horrores e nem a medicação e piadas de compras online conseguem remediar a situação. Sou uma mulher deprimida a pôr flores numa jarra e a suspirar por um verão ansiado.
Estou preparada para a primavera de 2023; vou combatê-la com exercício físico, disciplina e rotina. O meu cérebro precisa de mão firme e militar para funcionar, porque eu não sei existir assim. Eu não posso existir assim.
Ao menos no inverno, tinha a certeza de uma lareira e um cachecol. É aqui que me lembro da minha vida citadina, onde o escapismo era fácil e os meus amigos existiam em carne e osso. A vida adulta e as suas opções… outro tema.
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