Passei os meus trintas a procurar a felicidade nos sítios errados. Tentativas falhadas de encontrar o amor e descobrir o mundo. Foquei-me muito na minha educação e formação nos meus 20’s; também saí e vivi a noite e os amores, mas os 30 foram, derradeiramente, a descoberta completa: viajar, sonhar, amar e cair.

O que descobri eu? Que quem faz a mesma receita 7 vezes com os mesmos ingredientes, não pode esperar um bolo diferente à oitava vez.

Eu era o denominador comum em todas as ralações. Porque eram mesmo isto; ralações amorosas. Algumas duravam meses, outras anos, mas eram ralações. Entrei num ciclo vicioso de relações falhadas à nascença. Ninguém queria assumir, não havia pressa; YOLO e tudo o que não tive no liceu e nos meus tenros 20. Os rapazes dos meus 30 estavam cheios de demónios e fantasmas e que os deuses os tenham, que eu não desejo mal a nenhum, mas se sofri horrores, sofri. Era dias de cama a chorar, desabafos com o meu pai “mas tu és homem, diz-me o teu ponto de vista”. Tudo isso se resumia a um simples factor: eu não gostava de mim o suficiente. Como poderia esperar que alguém o fizesse pelos 2? Queria essa solução fácil; tu gostas de mim e vai ficar tudo bem. Mas eu não gostava de mim; por isso, esteve sempre, quase sempre, tudo mal.

Namoros tortos, uns com muita e outros com pouca paixão. Acabar relações por mensagem e quebrar promessas feitas de olhos abertos e coração apertado.

Foi já com 38 que tomei a decisão mais difícil que tomara: cortar o mal pela raíz. Digo-vos, passei pelo inferno; o amor não é suposto ser isto, o amor não é dor, não é loucura e todas essas palermices que eu achava que era. Esse sofrimento não podia existir de mãos dadas com o amor. Como assim ataques de pânico, cenas de ciúmes, exigências descabidas e descontrolo comportamental? Como assim?! Quem era eu? A pessoa mais controlada e racional em todas as áreas, um perfeito capricórnio, que só no amor não se atinava. Questionava várias vezes a razão de tudo isto. Porquê não conseguir ter, nos 30’s, o que tivera nos 20’s, namorados estáveis e pessoas ditas “normais”?

A resposta foi surgindo aos poucos. Apercebi-me que me estava a relacionar com egos e não com pessoas e que, acima de tudo, eu teria de mudar, radicalmente, de postura. A partir do momento em que o fiz, tudo começou a fluir de forma diferente. Eu já não desejava encontrar o amor; eu era o amor. Cuidar de mim e pôr-me em primeiro, segundo e terceiro lugares foi essencial para chegar onde estou hoje. Não é egoísmo, é amor-próprio; não é egoísmo, é saber o valor que carregamos. Para me terem, teriam mesmo de ser muito especiais. Fora isso, imaginava-me sozinha, a viver no campo e rodeada de animais. Quando me apercebi que esse era o “pior” dos cenários chorei, porque me visualizei feliz. Eu já era o suficiente. Atingi, ao fim de tantos anos, o que sempre quis, a aceitação plena do meu ser; sou sensível, exigente, tenho distúrbios alimentares e eles fazem parte do pacote. Mas estou aqui para a viagem de uma vida com quem a quiser fazer comigo. Leal e rotineira, um bicho caseiro com curiosidade pelo mundo em doses muito repartidas. Esta sou eu e mas ninguém me iria fazer sentir menor ou insuficiente. Eu não queria mudar mais, porque sempre que me tentava mudar, matava-me um bocadinho. Que se fodam todos os rapazes que vos fizeram sentir que vocês não eram o suficiente. Quem são eles!? De que são feitos?! O que os define e imortaliza?

Nunca fui de aplicações de encontros amorosos. Nunca estive no Tinder, nem nada assim; mas até no Instagram encontramos uma plataforma de puro e duro engate. Também me deixei disso: homens com redes sociais muito activas.

O meu homem é meu. Pode dar-se com e ter mil amigas, mas não vai seguir raparigas de um micro pseudo mundo pornográfico camuflado de artístico e feminista. Como vos disse, sou mesmo muito firme nisto porque sofri 8 intensos anos de dramas digitais, como se eu fosse um avatar em competição. Deixei-me disso. Vi que era esse o meu calcanhar de Aquiles e parti daí, um homem sem redes sociais. Quando quebrei o mal pela raíz, quebrei com ele a comparação diária que fazia de mim para com essas raparigas. E com a extinção dessa comparação, nasceu uma nova Joana: despreocupada, leve, calma e segura. Eu não me assemelhava a nada do que via e vivia. Sou mesmo um bichinho do século passado e é ok sê-lo. Não tenho preconceitos com as minhas crenças e os meus estigmas; abraço-os porque são parte de mim. E quem pensa de outra forma, olha que bom! Pensássemos todos da mesma maneira e que aborrecida seria a vida.

Então no meio disto, apareceu-me o Hugo. Uma pessoa do passado, o meu namorado aos 16. Após mais de 20 anos sem qualquer contacto, voltei-me a apaixonar pelo mesmo rapaz, agora já homem. O início foi estranho e desafiante. Mas era tudo o que eu tinha pedido. Alguém diferente de tudo o que eu havia tido na última década. O Hugo não só não usa redes sociais, como desconhecia 90% de referências de cultura pop que em conversas iam surgindo. Viveu para a música, para o surf e para o deporto na sua “bolha Actimel”. Estar com ele é como estar em casa. Encontrei o meu ninho de amor, a minha pessoa, o meu poeta, o meu Jim.

Explora-te, descobre-te, define-te e define também as tuas barreiras. É tão importante termos barreiras! Saber até onde conseguimos ir, o que conseguimos tolerar. Ama-te, ama-te, ama-te, repete-o todos os dias ao espelho, no banho, ao vestir o pijama, ao descalçar os chinelos, ao entrar em casa, até ao deitar.

O Hugo sabe, porque sabe, que se me deixar hoje, deixa uma mulher completa. Eu já me sentia assim quando lhe disse o “sim”. Ele acrescenta-me. Mas sozinha já sou o 100%. Com ele, somos 200%. Não existe 50/50. Existe 100/100 e existe o maior amor de todos, o amor-prório. Joana, eu amo-te! “Todas as cartas de amor são ridículas” e eu sou ridiculamente feliz.

Ilustração Jess Rielle, Los Angeles via tumblr