No espaço de 8 dias, voltei ao Porto. Não havia como não voltar, a vinda anterior tinha sido em trabalho e o Porto é uma cidade para ser vivida.
Peguei no Hugo, neste caso pegou ele em mim, e viemos A1 adentro até ao Norte do nosso belo país. Ouvimos Cash, Pearl Jam e Pink Floyd. Eu escrevi Pearl Jam!! É a banda preferida do Hugo e aquela à qual eu tinha uma gigante cruz em cima. Essa cruz foi apagada; estava riscada a giz e o Eddie é um porreiro.
Com boa banda sonora e muito sol, chegámos à Invicta num piscar de olhos. Ora cá estamos nós, outra vez, aqui, a pedir-te que nos faças sentir tudo o que uma cidade pode e deve dar ao seu visitante. Porto, exijo sempre o máximo de ti e tu nunca me desiludes. Um calor de ananases no último dia de janeiro. Vês, Rui? Não está um frio de rachar. E espaços novos e lindos sempre a florescer ruas acima. O Porto tem lojas bonitas, cafés belíssimos e pessoas calorosas no passeio e danadas na condução.
Ora vejam vocês que me assustei com uma ambulância, me atrapalhei em passadeiras, onde não vi o sinal vermelho, e entrei em cafés sem mostrar logo o certificado digital. Sou, oficialmente, uma camponesa. Com tudo o que a palavra implica: campo, campo, campo. É lá mesmo que sou feliz. Dei comigo à espera de Ubers e táxis, de iphone na mão e a pensar “isto já foi a minha vida”. Todos os dias eu andava de Uber, nalguns mais de 4 vezes. Todos os dias havia trânsito, buzinas e ambulâncias. Mas no campo eu acordo com os pássaros e adormeço com o silêncio apaziguador de quem sente que viveu o que tinha de viver na altura certa.

Tudo se alinha neste momento; olho para a minha vida e tudo faz sentido. Vivi uma década em plena Lisboa. Era lá que o meu sangue palpitava e eu era feliz. Vivi tudo o que podia imaginar e, porque os deuses o quiseram e eu deixei, vivi muito mais do que o que alguma vez sonhei. Mas hoje eu já quero pouco. Gosto dos dias lentos, da minha rotina, dos meus hábitos, do meu canto e do meu sócio amoroso. É um sujeito impecável, tenho de vos dizer; atura-me os caprichos, tira-me fotografias, corrige-me quando falo mal o nosso português e dá-me beijinhos de amor. Eu lavo-lhe a roupa, faço-lhe o almoço e dou-lhe, também eu, beijinhos de amor.

Gosto disto, desta entrega total. Gosto de cuidar dos meus, de cuidar. O verbo cuidar é muito bonito. Mas alongo-me em pensamentos dispersos. Onde estávamos nós?! No Porto! Oh Porto!!! O que me foste fazer! Este beliscão que me deste. Vim a correr para os teus braços mais uma vez. As tuas fachadas coloridas com o cinzento que entre elas se aprofunda. As tuas esplanadas com pessoas bem-postas e contemporâneas. Os teus azulejos e o teu Douro. As tuas pessoas e o seu bem-querer transparente.

Vou passear por entre as tuas ruas, fotografar cada esquina que me roube um sorriso e, no fim do dia, volto para o hotel com o coração desmesurado de tanto amor. Porto, gosto de ti.

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