O texto de hoje não tem, de momento, nenhuma pessoa em particular como exemplo. É uma mera reflexão sobre um tema que, tantas vezes, me faz reflectir. De facto, todos temos aquela pessoa na nossa vida. Aquela que ainda está cá, a fazer quase de figurante, mas um figurante demasiado presente e, por vezes, desconfortável.

Não vou usar eufemismos, nem suavizar o discurso. Este é um assunto sério porque a nossa vida e o nosso tempo também o são.

Se analisarmos o significado da palavra amizade torna-se, ligeiramente, menos complicado desconstruir o tema da publicação de hoje. A amizade nasce do companheirismo, do convívio, da comunhão de interesses, gostos, empatia, consideração, lealdade… acho que começam a perceber todos os restantes atributos que por aqui vêm.

Uma amizade que começou com um colega de turma no ciclo poderá continuar a existir na vida adulta sem ser, necessariamente, uma amizade na sua verdadeira definição. O facto de conhecermos e mantermos alguém na nossa vida determinado tempo não faz disso uma obrigação de continuar a inclui-la na nossa vida.

Muitas vezes me perguntei “mas que tenho eu em comum com X?”. Isto aconteceu-me várias vezes. Deparar-me com uma situação em que “tenho” de convidar e conviver com alguém porque, no passado, fomos amigos, mas no presente essa amizade mais não é do que um peso morto porque essa pessoa já não me é, de facto, querida. Posso não desgostar dela, mas o não desgostar não faz dela uma amiga.

Todos evoluímos. As experiências de vida, a maturidade inevitável que com ela vem, doenças, problemas familiares, pessoais e até financeiros; inúmeras são as variáveis que nos levam a mudar, a nos tornarmos diferentes, a evoluir.

Esta evolução traz novos hábitos, novos interesses, novas necessidades e, muitas vezes, as pessoas que foram entrando na nossa vida deixam de fazer sentido na mesma. E porque deixam de fazer sentido? Porque já não há identificação mútua ou de uma das partes, existe até algum desgaste e saturação que nos levam a não querer partilhar ou sequer conviver muito (ou de todo) com uma pessoa que, em tempos, foi muito importante para nós.

Mas tal como a vida não é estática, também a nossa personalidade, nem as nossas amizades o são. Não podemos manter alguém ali por pena, ou obrigação de serem quase “da família”. A única obrigação que temos para connosco é a de sermos mais amigos de nós próprios. E forçar situações de desconforto não entra, de todo, nesta equação.

Muitas vezes, nem precisa de ser meramente o deixar de haver identificação com a pessoa, pode apenas ser algo que já sentimos falta. Falta algo, aquela pessoa já não faz sentido ser membro do nosso nicho de amizades. Podemos ver isso por um prisma egoísta ou um prisma libertador. É libertador lutar pelo nosso bem estar. Não faz sentido sofrer , fazer de conta e fingir coisas que já não o são. A verdadeira amizade é prazerosa para os dois lados. A verdadeira amizade é união e partilha básicas e pura no carinho e na lealdade.

É possível continuar a ter alguém na nossa vida, mas fazê-la saber, pelas nossas ações, que já não há dependência ou sequer elos que nos prendam ou segurem de todo a ela. Uma simples falta de convite para determinado evento, ou falta de procura da pessoa podem indicar a nossa falta de vontade em manter viva a amizade. Contudo, nem tudo é assim límpido e cristalino. Há sempre aquela pessoa que insiste e insiste e insiste até, por vezes, quase nos obrigar a dizer o que não queremos; “Já nada me prende a ti; tu mudaste, eu mudei. E não basta gostarmos da mesma banda ou da mesma marca de chocolate. Eu agora procuro mais, e esse mais não inclui o que procuras tu.” Duro? Talvez.

Temos de começar a praticar o desapego, a deixar de sentir pena de pessoa X, Y, ou Z, sentir que temos de manter alguém lá porque “coitada”… Isto tem mesmo de parar. E não porque apenas nos causa desconforto, mas mesmo porque nos provoca dor. Não faz sentido mantermos pessoas como amigas que comprometem a nossa energia. A amizade deve acrescentar, nunca subtrair.

Não há tempo para fazer de conta. O tempo voa e o ontem já morreu. É normal irmos fazendo muitas amizades ao longo da vida, tal como é normal elas se irem desvanecendo com o correr dos anos. Seria impossível sermos sempre os mesmos, com os mesmos interesses e perspectivas; com esta mesma lógica, seria e é também impossível manter-se as mesmas pessoas de forma vitalícia e sem o questionar.

A minha personalidade mudou. Sou menos paciente, sou mais exigente; tenho os olhos mais abertos e o tempo escasseia. Não me vou submeter a fretes por opção. Desde que comecei a agir assim, noto que sou verdadeiramente dona do meu tempo. Sou livre porque sou eu que escolho com quem caminho.

Desculpem-me os eternos sonhadores, mas a minha vida cor-de-rosa teve demasiadas pinceladas negras para eu continuar um faz de conta que, no fim do dia,  só me faz mal.

Os meus amigos escolho-os eu, e se eu mudei e isso te incomoda… olha, a vida fez-me mudar! Sim, porque é possível, também, sermos nós a pessoa que está a ser “questionada” por outro alguém. Eu posso já não fazer sentido na vida de alguém. E só posso dizer; ainda bem. Foi bom enquanto durou. Hoje, eu sou mais eu. Todos os dias sou mais eu! E o meu eu não quer viver de aparências.

Lembra-te; “o amigo é um segundo eu“ e nada nos impede de começarmos hoje o nosso caminho na grande transparência e aceitação.

“Qual foi o meu progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo.”

Séneca

Para desanuviar o tema, e porque é mesmo tradição, ficam umas fotografias com o look do dia em que me fui inscrever na biblioteca de Torres Novas e calcei as minhas golden boots pela primeira vez!

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