Na publicação de hoje vamos mergulhar profundamente no tema Instagram. Lembram-se de como tudo começou? Primeiro, era uma aplicação que só os utilizadores de Iphone podiam ter. Segundo, tinha aqueles filtros para lá de manhosos, com aquelas molduras a simular as polaroides e tudo muito retro e quês. As publicações eram básicas; sushi, gatos e sapatos. Quem não pôs uma foto, tirada de cima, com os seus queridos sapatos?! Quem não pôs sushi/pizza/chávena de café e todos os clichés diários de insta food?

Muito lentamente, porque 4 anos no digital é muito tempo, o Instagram por volta de 2015 começou a ficar mais ponderado. Já não bastava a foto simples do gato deitado ao fundo da cama. Toda uma produção começou a tomar espaço plataforma fora. Autênticas obras-de-arte eram criadas até ao mais ínfimo detalhe. Quartos de hotel como cenário, tabuleiros de room service, flores, poses encenadas (pleonasmo?! bah… avante!!), guarda-roupa irreal… Toda a criação/simulação de um ideal de vida. O vender um sonho, um estilo de vida, uma busca pela perfeição através de imagens criadas e montadas com a urgência de suscitar esta fantasia e a derradeira inspiração aos seus seguidores.
Fotos em falésias de braços abertos, viagens infinitas espalhadas no nosso feed. Viajar passou a ser mais que ir conhecer um destino; o Instagram romantizou o acto de viajar.

Mas isto são águas passadas. Não o viajar, claro. Mas o tornar a viagem idílica e o pequeno-almoço idílico também. Não sei precisar a data, mas por volta de 2020 o Instagram começou a ficar mais descontraído, mais casual, mais blasé, mais cool. Se eu for a Paris, eu não vou fazer a fotografia perfeita com a Torre Eiffel no fundo. Eu vou fazer um carrossel de coisas mundanas, um pain au chocolat trincado, o meu reflexo numa qualquer montra na rue Saint-Honoré, fotos desfocadas e, até mesmo, close-ups sem definição, completamente pixelizados e sem qualidade técnica. Agora é isto que o IG nos pede; despreocupação, autenticidade, fotografias sem filtros e uma conexão com a relacionabilidade. Mas o que é isto de ser relacionável? O que é esta ostentação da vida mundana? Não será um carrossel de fotografias mundanas, mas claramente cheias de vida real, mais tóxico que uma fotografia assumidamente encenada? Não será a constatação que não temos esse material casual e mundano ao nosso dispor, mais tóxico? Seja porque apenas temos um trabalho das 09:00 às 17:00 ou porque a nossa vida quotidiana não é assim tão interessante ao ponto de tornar pequenos detalhes insignificantes desejáveis?

A existência digital comporta sempre algum senão. É complexo tentar praticar a separação vida real-internet, mas é possível ter uma plataforma online onde, de alguma forma, consigamos comunicar, inspirar, agradar alguém sem lhe causar angústia. Acredito mesmo nisto; é possível sermos nós, sermos reais e, mesmo assim, inspirar.

Eu não tenho 100k de seguidores porque nunca vou simular algo que não sou. Nunca vou crescer porque não me vendo por cem nem por mil. Ou então porque de facto sou demasiado nicho, uma mulher adulta que vive como uma teenager. Os meus seguidores sabem que no meu canto encontram alguém que gosta de fotografia, que não cede a tendências momentâneas, mas , também, não faz por isso porque rock and roll é a minha religião.

Resumindo tudo isto, não se comparem, não se meçam em fotografias e outfits do dia. O Instagram é só mesmo isso, o Instagram. E a nossa vida, não é só a nossa vida. A nossa vida é tudo o que quisermos dela. Desenhamos e escrevemos o nosso futuro, o nosso destino nas nossas ações diárias. Os meus melhores amigos, não ligam ao Instagram. O meu namorado, não usa Instagram, e, por fim, as pessoas com mais estilo que conheço, não têm Instagram. Isto dá que pensar. Mas não em demasia. ‘Bora não pensar em demasia nas coisas em 2022, ‘bora ser comedidos neste novo ano?! O que interessa a fotogafia de A, B, C ou D? O que interessa a vida dos outros? “Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias.”