Gosto de imaginar que a minha vida se fosse dividida por fases, cada fase teria uma cor associada. A infância seria o azul céu, toda uma nostalgia carregada de inocência e de dias preenchidos com um infinito faz de conta. A adolescência seria roxa, um roxo acinzentado, a pegar na solidão e na incompreensão, mas a juventude seria vermelha. Vermelho fogo claro está.
Na vida adulta, todas as cores se juntam. Somos os anos que passaram por nós, as memórias que fomos criando e as decisões que tomámos, ou não.

Tento sempre pensar positivo, mas sabemos bem que o cérebro comanda os braços, e se este não funciona bem, os braços não tomam ação.

Uma das minhas maiores paixões é a fotografia. Eu fotografo literalmente todos os dias. Seja foto de produto para o Blog, Instagram ou apenas para mim própria. A fotografia é a forma de guardar uma memória e eternizar uma visão para sempre. Um baton tem muitos ângulos, o meu ângulo e a minha visão são sempre diferentes, e a minha perspectiva é única na medida em que cada um olha para algo de uma forma muito singular. A beleza e a estética encontram-se quando o Mundo pára para observar e contemplar uma fotografia.

Com o prazer de fotografar carrego (um carregar de forma harmoniosa) uma imensa vontade de conhecer o Mundo e todas as suas cores.

Adoro viajar, conhecer e tocar com os olhos os sítios que vi na televisão, na internet e nos livros. É maravilhoso sentir o falso déjà vu e o arrepio de encarar com a alma uma paisagem, uma imagem guardada que agora é real.

A primeira vez que senti isto foi numa viagem a Roma em 2004. Eu sentia, com todas as forças que me moviam as pernas, que eu já havia caminhado aquelas ruas. Roma foi, sem dúvida alguma,  a minha introdução ao fascínio de viajar.
Por esta altura eu estava na Universidade a tirar o curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas. Línguas estas que eram o Inglês e o Italiano.
Como tal, poder falar in loco a Língua que estava a aprender, foi algo transcendental e idôneo. 

Depois de Roma, muitas foram as cidades que me roubaram o coração, Las Vegas, Liverpool, Viena, Los Angeles, Palm Springs, Rio de Janeiro e muitas mais. Mas se for falar em roubar mesmo, tenho de falar em Paris.
Sempre que estou em Paris pergunto-me “porque não moro eu aqui?”. É uma realidade que já perdi a conta às vezes que já lá fui.  É ainda outra realidade que viajar é viver e que é essencial conhecer os cantos que não são os nossos cantos. Cantos diferentes e distantes, cantos que, muitas vezes, se tornam nossos para todo o sempre. E este caso aplica-se à minha Cidade Luz.

Paris

Rio de Janeiro

Viajar é, sem dúvida, das coisas que mais gosto de fazer quando sinto que a minha predisposição para existir entra num círculo vicioso. Sou uma pessoa que se aborrece facilmente com a vida. Talvez por estar muitas vezes doente, sou forçada a estar em casa, com os meus pensamentos e medos, e isso torna-se insustentável para uma mente se expandir. Muitas vezes, só para me desafiar, marquei hóteis, viagens e fiz compras absurdas para sentir alguma adrenalina louca e sentir que estou viva.

Consigo entender bem ao escrever e ler-me que, tudo isto, parece excessivo. Mas cada dor é uma dor, há dores maiores, claro, mas um braço partido não é, necessariamente mais alarmante que uma mera queda de cabelo intensiva, que um quadro de ansiedade destrutivo e em loop ou apenas um cérebro que não colabora com o coração.
Classificar uma dor ou uma opção de vida são tarefas fáceis para quem tem saúde. Se tens saúde, nunca perceberás. Não há identificação, é impossível compreender ou genuinamente aceitar uma realidade que não se cruza com a nossa.

Mykonos

Palm Springs

Mas voltando a isto de fugir, de viajar e viver, por dias, outra vida, isenta de horários e obrigações. Desisti de viajar em modo turista e fazer check em todos os pontos turísticos obrigatórios que 70 mil pessoas me enchiam a cabeça com os típicos “tens de ir”. Decidi que não, basta! Viajar é o meu escape, meu! E um escape é uma fuga literal. Quando viajo gosto de seguir o meu instinto e caminhar ruas fora e descobrir os meus recantos, ao meu ritmo com as minhas regras sem regras.

Claro que gosto de ir aos sítios icónicos e, muitas vezes, repeti-los. Mas essencialmente gosto de descobrir lojas locais, pastelarias locais, galerias de arte e jardins. Detesto incluir restaurantes nos meus roteiros, sinto sempre que prefiro pegar numa fatia de pizza e caminhar com ela rua abaixo até encontrar um banco de jardim e a comer, de olhos fechados e a absorver tudo. Claro que este trauma com a comida e com os restaurantes é algo muito pessoal e, quando viajo acompanhada, tenho de os frequentar e, traumas à parte, tentar partilhar a alegria que a pessoa que viaja comigo nutre neste seu prazer. Viajar acompanhada é, também, fazer cedências e encontrar um equilíbrio onde ambas as partes se satisfazem e tiram o máximo proveito da experiência.

 Brooklyn e Manhattan, New York

Barcelona

Las Vegas

Se for avaliar bem todos os sítios que já fui, há uma constante impossível de não mencionar. Se amo, repito. Por exemplo, Las Vegas; Já fui duas vezes e tenho a certeza que pelo menos mais uma lá voltarei. É apenas uma certeza tão clara quanto escrever este texto. Quando meto uma coisa na cabeça ninguém me pára, mas quando a guardo no coração, é incrível o poder da visualização e de como, de facto, se torna real. Na minha vida, mesmo que “a ferros” e com muita paciência, tudo o que desejo, alcanço. E isso é inegável e entusiasmante.

O mesmo se aplica exactamente a São Miguel. Atentem nestas palavras, nunca fui à Grande Muralha da China, mas já fui ao Grand Canyon… São Miguel era a opção, mais uma vez, se me dessem a escolher entre as três. Há apenas sítios, energias e frequências que nos moldam e mudam. E São Miguel é verdadeiramente o paraíso na Terra.

São Miguel, Açores

Los Angeles

Tenho um regra, há já alguns anos, que tenho de fazer no mínimo duas viagens por ano. Sorte a minha já ter ido duas vezes a Paris em Janeiro e a Berlim em Fevereiro. Nestes tempos estranhos que vivemos, imaginar viajar parece tão remoto como utópico. Mas os tempos mudam, e a desgraça de hoje é, e será, com toda a certeza, apenas uma memória e uma aprendizagem do amanhã. Nunca esquecer “O mundo é um livro e quem não viaja lê apenas a primeira página”. E eu, adoro acabar um livro, voltar a pegar nele, revisitar páginas e crescer com elas.